domingo, outubro 22, 2006

Operação k7 quebrada

Há coisa de duas semanas, enquanto reorganizava os meus aposentos, dei por mim sem saber o que fazer às k7's VHS que se amontoavam a um canto. Depois de sentir uma certa embriaguez nostálgica ao passar por títulos como "Os condenados de Shawshank", "O Corvo", "Pulp Fiction", "As minas do rei Salomão", "Fim de semana com um morto", entre outros, achei que ocupavam demasiado espaço para o uso que lhes conferia. Assim, sob o slogan "Tornar-me 100% digital" enforcei aquilo a que dei o nome de Operação K7 quebrada.

Ainda que com alguma mágoa e uma certa dose de incerteza sempre presente, lá foram as amigas VHS pela conduta que as conduziu ao caixote verde (ainda pensei na reciclagem mas nao sabia qual a cor do caixote onde as devia depositar e afinal de contas sou sportinguista).

Uma vez concluida a operação, uma sensação de alívio percorreu o meu corpo, de tal forma que já nem compreendia não só a hesitação anterior, como o facto de ter demorado tanto tempo para me decidir a levá-la à prática.

E assim vivi feliz desde aí..

Até que recebo um mail do amigo Siopa que passo a reproduzir:


"O Instituto Português de Oncologia (IPO) está a angariar filmes VHS para os
doentes da unidade de transplantes que estão em isolamento. «São crianças e
adultos que precisam de um transplante de medula e de estar ocupados
durante o tempo de internamento», explicou ao Portugal Diário a Enfermeira
responsável pela unidade, Elsa Oliveira.

A «falta de "stocks"» torna necessária a ajuda da população: «Precisamos de filmes para as pessoas mais desfavorecidas que não têm possibilidade de os trazer. Algumas crianças trazem os seus próprios filmes e brinquedos mas depois quando têm alta levam-nos», acrescenta.

O IPO aceita todos os géneros de filmes, mas a preferência vai para a «comédia». Numa altura menos feliz das suas vidas, «um sorriso vai fazer bem a quem passa dias inteiros numa cama de hospital». Rir é sempre um bom remédio.

As cassetes de vídeo ou DVD's antigos podem ser enviadas para:

Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil
A/C SrªEnfª Elsa Oliveira

Rua Professor Lima Basto 1093 Lisboa Codex

Ou então, informe-se pelo telefone: 21 726 67 85"


Para evitar que aqueles de vós que ainda não se tornaram 100% digitais percam a oportunidade de fazer rir as crianças que têm de ficar todo o dia internadas a ver morangos com açucar e floribelas aqui fica a mensagem. Nada como um belo filme do Eddie Murphy ou do Chevy Chase, que nos entreteu nos 80's e que ainda pode fazer bem a alguém.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Relatos do Interrail - Passagens de fronteira

Começo os Relatos do Interrail por um dos mais inebriantes acontecimentos deste tipo de viagem: as passagens de fronteira. Acontecimento físico mas sobretudo psicológico de atravessamento de imaginárias linhas divisoras, sobre as quais rios de sangue correram e inda correm.

Este não é um tema sobre o qual se possa, a meu ver, generalizar mais do que o feito no parágrafo anterior, pois a história de cada curva dessas linhas diz em si mesma muito sobre o que nela está contido. E não havendo territórios iguais, não haverá fronteiras iguais.

Algumas nem se nota a passagem, noutras a passagem é de tal forma notória que se apanha uma constipação no processo.

Entrar na Turquia custa 10€ para europeus ou 15$ para americanos para um visto de entrada, é bom ser europeu e ter descontos como este. Note-se que o visto diz explicitamente EMPLOYMENT PROHIBITED, o que gera sempre a mesma piada entre os mais atentos a este pormenor.

A frontreira entre Sérvia e Croácia também é digna de registo. Cemitérios humildes com centenas de cruzes delimitam-na. Como estrangeiro a esta realidade os agentes de custumes trataram-me com bastante mais simpatia que aos que dali queriam passar para o outro lado. Nesse aspecto ainda se sente algum recentimento e qualquer coisa entre a vingança e "esta-não-é-a-tua-terra".

Por falar em custumes, só não vê o contrabando quem estiver a dormir. Tabaco e qualquer coisa embrulhada que supuz ser droga vi eu a passar. Aliás, o revisor dum comboio (enquanto os passageiros tratavam dos vistos de saída) comprou dezenas de volumes de LM na fronteira entre a Turquia e a Bulgária. Distribuiu-os em sacos arbitrariamente pelas carruagens e calmamente pediu-nos que dissesse-mos que era nosso caso nos fosse perguntado. Quando lhe perguntei o que ganhava eu com isso fez-se que não percebia inglês. Os custumes búlgaros ficaram com um dos sacos e 2 pancadinhas nas costas e o comboio seguiu viagem.

Chegados a Istambul o comboio entra numa linha suburbana, passando por diversas estações mas não parando em nenhuma. Um outro revisor aproveita para atirar um saco fechado (claramente tabaco não era) numa dessas estações onde um grupo de 2/3 pessoas o esperava (ao saco) de braços abertos e aos pulos depois da bela recepção de um deles.

Ainda assim nada me marcou mais que a passagem da Hungria para a Roménia. Finalmente encontrei o 2º mundo. Um mundo onde não se fala inglês e quem fala aproveita-se disso, e bem. "This is Romania, reservation very very necessary. Oficial price X, non-oficial price.."

O interrail à guisa do autor

Olá amigos,

depois de 2 anos de fraca produção intlectual por motivos metereológicos a que a administração do blog é alheia, eis que estão de novo criadas as condições para um saudável aumento de produção.

Como é do conhecimento geral, um interrail foi feito por mim à coisa de 2 meses; sobre o qual pouco o nada tenho dito neste espaço à excepção dos pequenos reports que fui fazendo onde conseguia ligação à internet.

Depois deste tempo necessário à maturação da experiência em si, é chegada a altura de partilhar alguns pensamentos que me ocorrem sobre a dita viagem, poupando-vos a fastidiosos detalhes diariográficos.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Enquanto a chuva cai

Está de chuva lá fora, recomenda-se uma gabardine.

Estou entusiasmdo com o acordo celebrado entre o Estado Português e o MIT para o desenvolvimento de programas de estudo avançados nas áreas de engenharia de concepção e sistemas avançados de produção, sistemas de energia, sistemas de transporte e sistemas de bioengenharia.

Sinceramente acho que é uma boa aposta do governo, quer pelos intervenientes quer nas áreas de estudo escolhidas. Acho que vai sendo altura de o país deixar cair alguns sectores em que é menos competitivo e fazer apostas com futuro; e sobretudo deixar de investir pouco em tudo e fazer precisamente o contrário. Claro que não é fácil vai levantar muitas ondas, mas tem de ser. Convem ler David Ricardo neste ponto.

Tenho pena que alguns senhores se tenham levntado contra as universidades escolhidas para entrar no programa mas quando é preciso escolher já se sabe que não se pode ir a todas e alguém tem de ficar de fora. Sobretudo Aveiro mas também Évora se têm afirmado nos últimos anos como potenciais concurrentes às universidades clássicas; mas estas têm apostado e bem, sobretudo nas áreas de TI que não são o foco deste programa e provavelmente por isso terão ficado de fora.

Lamentar por último que tenha sido o governo a assinar este acordo. Deveriam ter sido, na minha opinião, as universidades, elas mesmas, a procurar valorizar-se com este tipo de iniciativa, ainda que dependendo sempre do dinheiro estatal para a concretização. Assim, àquelas que ficaram de fora, em vez se queixarem, vão à luta.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Jaques de Molay vingado serás

13 de Outubro de 2006 não está de chuva lá fora; o lugar é Alter do Chão e 11 e pouco é a hora

Faz hoje 699 anos que Filipe IV, O Belo, Rei de França declara ilegal a Ordem dos Templários e mandar prender os seus membros simultaneamente um pouco por todo o lado; mais tarde viriam a ser queimados vivos naquilo a que hoje se chamaria um 2 em 1: executados e cremados logo ali e de uma só vez.

13 de Outubro de 1307, sexta-feira

daí vem o chamado azar das sextas-feiras trezes..

quinta-feira, outubro 12, 2006

Carvalho da Silva em prime-time

A CGTP planeia ocupar os seus 5 minutos televisivos de hoje com uns exercícios a realizar em Lisboa, algures entre o Marquês e o Terreiro do Paço. Tratam-se de manobras que visam a preparação das tropas para qualquer eventualidade. Foram fretados 3 autocarros, milhares de ripas de madeira, uma boa dúzia de lençois e uns restos de tinta, sabe-se lá a que preços.

Os exercícios visam, entre outras coisas, que no juntar é que está o ganho, a redução da idade de reforma no sector da construção de 65 para 57 anos; especificidade do sector. Enquanto os outros sectores aumentam, com excepção da educação, do turismo, da agricultura, da industria e do comércio, pelas mesmas razões: especificidade.

De fora ficou a produção e a escrita de blogs, não é específico o suficiente. Ora, como toda a gente sabe, ninguém com mais de 57 anos é capaz de produzir qualquer blog de geito; mais, toda a criatividade do organismo é sugada muito antes da idade crítica dos 39. Como pode, pois, o governo fazer uma coisa destas? Estarão eles interessados em matar os bloguistas de cansaço intelectual? Não chegavam já os Grandes Portugueses e o Dança Comigo?

São questões em que vale a pena reflectir..

sexta-feira, setembro 29, 2006

Bulls on parade

- Isso no fundo não é bem assim, se vires bem acabas não sair do mesmo sítio e por isso para que começar?
-...
- Chego sempre à conclusão que toda a opinião sobre uma pessoa colectiva não passa duma generalização grosseira.
- E então? Lá estas tu com a mania das grandezas. A opinião é sempre uma inverdade se fores rebuscar excepções, mas permite o desenvolvimento do argumento, que à falta de melhor, entretem as hostes.
- "Tudo deve ser simplificado o mais possível, mas não mais simples do que isso" disse uma vez o Einstein, não sei em que estava a pensar mas quando se trata de pessoas, não há grande simplificação a fazer; negar isso é ceder aos autocolantes. A humanidade enquanto gente é demasiado intratável. As pessoas é uma coisa relativa..
- Alguém disse um dia que "The dilettantish luxuary of relativism will be forgotten in the boneyards of the future"
- Não estou a ver onde queres chegar.. mas uma coisa é certa e disse-o bem Carl Jung: "people cannot stand too much reality". E no que trata de fugir à realidade.. sabes tu melhor que eu.





Nem tudo cheira bem no reino da dinamarca. Estou aqui, estou a perdê-lo.

"No bairro de perdição aonde aportou a minha juventude, como para acabar de instruir-se, dir-se-ia terem marcado encontro os percursores sinais duma próxima derrocada de todo o edifício da civilização" Guy Debord

Cheira a mofo, diz ele.

Detesto os custos de oportunidade. Detesto janelas. E menos gosto de cabras cegas.

Vou partir à conquista da latrina d'oiro.

"The known is finit, the unknown is infinit; intelectually we stand on an islet of an illimitable ocean of inexplicability. Our business in every generation is to claim a little more land." Thomas Huxley

"A mente é um pára-quedas, só funciona se estiver aberta" Thomas Dewar

sábado, setembro 16, 2006

Recuperando o folego

Vou andando por ai
Sobrevivendo à bebedeira e ao comprimido
Vou dizendo sim á engrenagem
E ando muito deprimido

É dificil encontrar quem o não esteja
Quando o sistema nos consome e aleija
Trincamos sempre o caroço
Mas já não saboreamos a cereja

Já houve tempos em que eu
Tinha tudo não tendo quase nada
Quando dormia ao relento
Ouvindo o vento beijar a geada

Fazia o meu manjar com pão e uva
Fazia o meu caminho ao sol ou à chuva
Ao encontro da mão miúda
Que me assentava como uma luva

Se ainda me queres vender
Se ainda me queres negociar
Isso já pouco me interessa

Perdemos o gosto de viver
Eu a obedecer e tu a mandar
Os dois na mesma triste peça
Os dois á espera do fim

Tu tens furtuna e eu não
Podes comer salmão e eu só peixe miúdo
Mas temos em comum o facto de ambos vermos
A vida por um canudo

Invertemos a ordem dos factores
Pusemos números à frente de amores
E vemos sempre a preto e branco o programa
Que afinal é a cores
Jorge Palma - À Espera do Fim

quarta-feira, agosto 30, 2006

Interrail Report Finale

Dia 27: Colónia
Dia 28: Colónia - Amesterdão
Dia 29: Amesterdão
Dia 30: Amesterdão - Lisboa

E assim aconteceu..

Back in Lissabonne em escala de volta até ao Alentejo

sexta-feira, agosto 25, 2006

Interrail Report 07

Dia 26: Munique - Colónia

Depois de ter experimentado o melhor da comida da Baviera e alguma da cerveja local hoje foi um dia complicado. Uma viajem que deveria ter sido de 6 horas tornou-se numa de 9 ou 10 horas. Adormeci no comboio e perdi a oportunidade de sair em Estugarda pelo que segui até Frankfurt (Main) e daí para Mainz e só entao para Colónia.

O plano era conhecer hoje o máximo possível de Colónia e aproveitar amanha para dar um salto ate Hamburgo. Assim parece que nao vai ser desta pois trata-se de uma viajem de 4 horas.. 8 se contar com a volta.. 12 a 14 se la quiser ficar algum tempo. A nao ser que me levante bem cedinho. Vou por o despertador mas depois acabo por nao ver nada de Colónia.. decisions, decisions..

quinta-feira, agosto 24, 2006

Interrail Report 06

Dia 21: Belgrado - Zagreb
Dia 22: Zagreb
Dia 23: Zagreb - Liubliana
Dia 24: Liubliana - Salzburgo
Dia 25: Salzburgo - Munique

Está a chegar ao fim, é a mais triste conclusão que me cabe fazer ao escrever os últimos dias do percurso. Pena ter estado só um dia em Ljubljana, nem um dia inteiro sequer, porque valia mais que os 2 que estive em Zagreb. É o problema de reservar as noites nos hostels com antecedencia, as vezes apetece mais e já não é possível (sem perder 10-20€).

De qualquer maneira troquei a última noite em Paris por mais uma em Amesterdão, visto que me parece valer mais a pena; ainda não é desta que subo a Torre Eiffel.

Vou voltar um pouco à vida de sandes e enlatados, depois de sair dos países onde se pode comer bem por relativamente pouco.

Depois desta viajem já vai dando para perceber em que países (zonas) se é bem recebido e quanto isso importa para a satisfacão duma viajem. Agora de volta à Alemanha posso deixar de me preocupar com horários de comboios porque a oferta é tanta que difícil é estar mais de 30 minutos à espera.

Por aqui ainda não há OctoberFest mas estou à espera de alguma AugustFest. Ainda nem mapa tenho mas estou ao pé da estacão principal pelo que não deve ser difícil arranjar um.

Uma última nota para a viajem entre Ljubljana e Salzburg feita às 8h da manhã com o nevoeiro dos Alpes no seu explendor é uma coisa que vale a pena.

Abraco

sábado, agosto 19, 2006

Interrail Report 05

Dia 17: Istambul
Dia 18: Istambul - Plovdiv
Dia 19: Plovdiv - Sofia - Belgrado
Dia 20: Belgrado

Comeco agora o ultimo terco da viajem. Parecia tanto tempo no principio. A indefinicao e geral. Nao era pa aqui vir. Decidi ca ficar uma noite. Festival da cerveja no castelo nao eh so em Lisboa, aqui hoje passa-se o mesmo.

Amanha Zagreb e talvez Ljubliana se nao arranjar sitio para dormir em Zagreb.

Ha pouco passei por uma recordacao da guerra; dois edificio em ruinas e um palacio adjacente que levou com as sobras. Curioso que ambos os edificios em ruinas estavam guardados pelo exercito.

Fora isso parece-me uma cidade normalissima numa tarde de sabado em agosto. Deve tar tudo na praia.
Mais uma vez concegui alugar uma bicicleta e assim ve-se bem mais facilmente a cidade, apesar de nao se verem muitas por aqui.

Abraco

quarta-feira, agosto 16, 2006

Interrail Report 04

Dia 13: Budapest - Braşov
Dia 14: Braşov
Dia 15: Braşov - Bucareste -Istambul
Dia 16: Istambul

Começo por dizer que os teclados (ou o alfabeto) turco tem 2 is, um com pinta outro sem. a ver: ı e i. o sem pinta ocupa o lugar do com pinta nos nossos teclados. parece apenas um pormenor mas depois nao ha pagına que abra, password que seja aceıte, etc.

Conhecı uns portugueses no comboio de Bucareste para İstambul, jogou-se um Bısmark. Foı bom pela companhia mas tenho andado com eles mas sao gente de passo lento. Estou aquı ah doıs dıas e aında nao vı quase nada.. Pıor, sao do Porto e ja se sabe que nao ha nada melhor que o Porto e nao perdem oportunıdade para o realcar. O que a inveja faz..

Amanha aında fıco por aquı durante o dıa e de noıte vou para a Bulgarıa parando em Plovdiv e depoıs Sofia onde conto voltar a apanhar o comboıo da noıte para Belgrado. Nao ha duvıda que as coısas se passam de outra forma quando se saı da UE. Gostarıa de excluır a Hungria do grupo porque me pareceu ao nivel dos de leste. Onde a Russıa poe o pe..

Va la as coisas na Turquia sao bem dıferentes ao nıvel cultural. Gente aberta e sımpatica, embora do tipo brasileiro, a ver se pinga. Honra seja feita aqueles que nao trabalham em lojas e que realmente tem sıdo impecaveıs. A cidade eh bastante segura para os 12 milhoes que por aqui andam. Na parte turistıca pelo menos.

Agora eh voltar para casa por um camınho dıferente. Toda a gente me dız para ır a Cracovia mas tınha dado geıto ter ıdo antes. Vou ver se aında consıgo.

Porque eh que toda a gente aqui me fala no fıgo ou no ronaldo quando dıgo que sou portugues??

sexta-feira, agosto 11, 2006

Interrail Report 03

Dia 12: Budapeste

Hoje deu para ver alguma coisa do lado de Buda, especialmente as colinas. O metro está em obras pelo que só de autocarro ou eléctrico é que se atravessa o danúbio.. ou a pé. Por falar nisso o Danúbio está longe de ser azul. Acastanhado, vá.

Encontrei aqui algo que me parece muito lisboeta, a sensacao de ser capital de uma grande coisa mas que nao manda em mais que um pequeno nada.

Aqui ainda se entra nos autocarros em qualquer porta que abra, atravessa-se a estrada fora da passadeira ou com o sinal vermelho entre outras coisas.. para quem veio da Alemanha e Austria isto já me parece terceiro mundista.. que será quando chegar á Roménia ou Bulgária..

Por falar em terceiro mundista, os austriacos nao entendem o conceito de fila. Já havia tomado conhecimento deste facto nas célebres cantinas parisienses, mas estar num alinhamento de McDonalds em Viena pareceu-me seguro. Nao só se metem á nossa frente literalmente á francesa, como ainda olham para trás com aquela expressao: olha pa este parvo que se deixou ultrapassar. Uma boa cotovelada parece resolver a questao.

Next stop--> TRANSILVANIA

Amanha parto cedo para Brasov, Roménia. Que é como quem diz chego lá já de noite. A partir daqui os comboios sao uma coisa que passa mais ou menos a uma hora e que nao chega la no mesmo dia do calendário canónico.



Para aqueles que como eu se perguntam que raio sao os "Roma" que perfazem sempre uma pequena percentagem da populacao e sao sempre alvo de conflito com os locais (como lhe chamam os guias de viagem) trata-se dos nossos já conhecidos ciganos, povo sem terra nem pátria que vive do comércio de artigos contrafeitos, aqui como em qualquer lado da Europa. Aqui, simplesmente, nao os distingo pela pronuncia.

Já falei disto ontem mas tenho de repetir, esta malta da Europa Central precisa de aprender a receber os de fora. Muitos anos a serem invadidos deram nisto. Talvez uma bandeira branca ajude.

Dizem-me que as pessoas na provincia sao mais abertas e acolhedoras, o que é bom mas nao ajuda muito á causa, já que nao estou tanto numa de ver os campos de milho e girassol.



Ticket please..

Passport control..

quinta-feira, agosto 10, 2006

Interrail Report 02

Actualizacao:

Dia 10: Viena
Dia 11: Viena - Budapeste

Comecei agora uma nova fase a partir de Budapeste, a fase em que já soube escolher os hostels, ou seja baratos e sobretudo perto do centro. Em Berlim estive a mais de 15km do centro (metro+comboio+autocarro) ou seja nem sempre o mais barato sai mais barato. Em Viena voltei a ficar longe do centro mas felizmente havia metro até lá perto.

Agora estou no centro de Peste. Peste é o lado plano da cidade, pelo que aluguei uma bicicleta e passei o dia a conhecer isto sem me cansar muito. Amanha vou andar pelas colinas de Buda. As pessoas aqui também nao falam ingles, mas já me parecem mais simpaticas. Há aqui nem um terco das pessoas que havia em Praga. Ainda nao encontrei portugueses. Comeca a ser uma cena de valor.

Acabei de encontrar na rua uns americanos que tinha conhecido no hostel em Viena, engracado.

O mal destas terras daqui para a frente é que apesar de parecerem mais baratas perde-se sempre com os cambios. Dica: nunca trocar dinheiro na estacao a que se chega, a nao ser os indispensáveis 5€ para o metro ate ao hostel. Quanto mais perto do centro melhores sao os cambios.

Outra coisa chata é que nao se percebe nada das coisas no supermercado. Pela segunda vez comprei água com gás, numa garrafa de litro e meio. E escolher patés na Republica Checa!!! isso é que foi..

Aqui vou eu..

terça-feira, agosto 08, 2006

Interrail report 01

Interrail Dia 9 - Viena, Austria

Tudo a correr dentro do possível. Alguns problemas nos primeiros dias com reservas de hostels (ou falta delas) mas agora vai correndo melhor. relatório de passagens:

Dia 1: Lisboa - Madrid
Dia 2: Madrid - Barcelona
Dia 3: Barcelona
Dia 4: Barcelona - Paris
Dia 5: Paris - Berlim
Dia 6: Berlim
Dia 7: Berlim - Praga
Dia 8: Praga
Dia 9: Praga - Viena

chuva desde Berlim até hoje. parece querer melhorar um pouco.

parece que o benfica vai jogar hoje em Viena. estou ao pé de um estádio, näo sei se é o do Austria, mas näo é o Prater.

Barcelona gostei muito (näo conhecia). Berlim foi agradável surpresa, alemäes (berlinenses) muito simpáticos ao contrário das pessoas da Boémia, pelo menos de Praga, muito desagradáveis mesmo. Viena também näo parece muito acolhedora para estrangeiros mas ainda é só a primeira impressäo, mas já comeco a perceber porque o Haider tem tantos votos. Muito imigrante desagradável. O bigode parece que está na moda por estas bandas.

depois de Viena ---> Budapest, Brasov, Bucareste e a täo desejada ida a Istambul.

abracos (estes teclados alemäes é que säo dispensáveis, Y e Z trocados e todos aqueles tremas)

domingo, julho 30, 2006

pouca terra, pouca, terra..

Enquanto a malta vai a banhos, o blog sai à rua; apanha o comboio e faz-se ao Velho Mundo. Assim, durante este abrasador mês de Agosto não serão publicadas neste espaço as já habituais crónicas da actualidade que ao autor interessam. Serão, no entanto, substituidas por pequenas peças escritas em cybercafés em transito pela Europa, numa rubrica a que decidi dar o nome de pequenas-peças-escritas-em-cybercafés-na-Europa.

sábado, julho 15, 2006

BEPP

É usual ver-se nos telejornais o cidadão comum a insurgir-se contra o lucros dos bancos. Os senhores do Bloco de Esquerda Partido Popular vão na onda e dão eco a estes comentários. Acontece que os lucros dos bancos devem-se mais à capacidade intrínseca das pessoas que lá trabalham que à inoperância ou favorecimento do Estado.

O problema e aí dou-lhes razão, é que assim os ricos ficam mais ricos mas porque os ricos têm mais cuidado com os investimentos que fazem. Parece-me é que penalizar os bons, porque são bons, é que não é uma atitude positiva, diria mesmo é o pior que se pode fazer pois cria um incentivo claramente errado.

sexta-feira, julho 14, 2006

Bombas, Berlusconi e o Beira-Mar

Fico triste por ter dito umas baboseiras neste espaço recentemente. Mais triste fico por ninguém se ter levantado contra isso. Tenho lido alguma coisa sobre estas matérias (sempre gostei desta expressão cavaquista) e a Coreia do Norte é muito mais um fantoche chinês do que eu pensava. Alias, os próprios mísseis disparados, se vistos mais de perto, não poderiam esconder a já comum etiqueta Made in China, como outro brinquedo qualquer.

Aquilo que me põe a pensar hoje que estou mais dentro da temática é a relação entre a Rússia e a China. Deixo à vossa consideração estes dois estados comuno-capitalistas e novo-riquenhos.

Mais, é com alguma apreensão que vejo os comentários relativamente à Rússia feitos nos USA sobre a última reunião do chamado G-8, que a própria Rússia organizou e, diziam alguns, nem à mesa deveria estar quanto mais organizar. A posição da Itália aparentemente é pacífica. Sabendo que a dimensão do ego destes senhores é proporcional ao tamanho do país, certamente não lhes arrancaram muitos sorrisos. O próprio Putin não me parece fan de programas de humor, por assim dizer. Convem não esquecer que estes senhores ainda possuem uma quantidade de bombitas capazes de destruir o planeta. E que vão, dir-se-ia numa expressão empresarial, capitalizando activos e realizando mais-valias aqui e ali visto que a procura é grande.

Mas isto não é coisa que aparentemente interesse aos meus leitores pelo que passarei a escrever sobre bola, que afinal sempre é coisa capaz de unir os povos. Prevejo que este ano o Benfica seja o campeão da pré-temporada e que o Vende-Camisolas se desdobre em sorrisos e fotografias patrocinadas por uma qualquer marca desportiva.

Disse à chegada e passo a citar: O Jardeu chegou pr'a fazê o que o Jardeu sabe fazê, né? O Jardeu promete golos e o seu grande objetxivo nessi regrésso é conquistá títulos

Bem vindo de volta Jardel, que falta fazias para animar isto. Um brinde: À tua cabeça, umas das mais belas, senão a mais bela que tive oportunidade de ver, salvo seja.

Quero ainda destacar a descida de divisão da Juventos, Fiorentina e Lázio como grande reforço dos clubes europeus, vamos lá ver se sobre algum avançado para o Sporting, visto que o Miccoli, esse goleador, já rumou a outras paragens.

Fiquei deveras surpreendido, confesso, por esta decisão, numa justiça que julgava ao nível da portuguesa. Sou levado a crer que o juiz seja amigo do ex primeiro ministro.

quarta-feira, julho 05, 2006

3 em menos de 100 anos?

Isto da Coreia do Norte é giro e tal, vamos lá ver é se não acaba mal. Estou em crer que uma guerra à americana dava bem cabo daquilo e nem sequer haveria grandes problemas de consciência. O problema é que parece demasiado fácil.

Tenho andado a explorar através do Google Earth alguns países menos comuns (depois de descobrir o meu carro), entre eles a Coreia do Norte. Felizmente há uma meia dúzia de americanos, que devem ter algum tipo de formação militar, catalogaram os mais importantes locais estratégicos não só da CN como da Síria, Irão e etc.. Dizem eles que Pyongyang é a cidade mais bem defendida do mundo e eu acredito ao ver a quantidade de baterias antiaérias, quarteis, trincheiras etc que se identificam pelas imagens de satélite.

Mas porquê disse eu à pouco que parece demasiado fácil? É que apesar dos mísseis (ou um dos vários tipos deles) que foram lançados ontem poder atingir os USA na costa ocidental (e. g. LA) me parece uma atitude demasiado ousada para um país com uma economia inexistente. Eles até devem ser autosuficientes, se contarmos que grande parte muito pouco tem para viver e não se conhecem grandes reservas estratégicas hoje em dia que pudessem aguentar uma guerra prolongada. Não têm nada, porque não precisam de nada, a não ser de urânio, mísseis e tecnologia (que aparentemente ou têm ou estão em vias de ter).

Descontando as inerências mais físicas de uma estratégia bélica de invasão e defesa, que passa pela cabeça daquele senhor quando lhe dá para fazer uma demonstração destas no dia 4 de Julho (Dia da Independência dos USA)? Terá ele as costas quentes? Eu diria que sim, não me faz grande sentido se não for assim. Seria no mínimo suicida e creio que se assim não fosse já o senhor arbusto tinha lá ido (que isto das guerras dá sempre uma certa fama, quem que seja para ficar na história).

Então que aliados pode ter o pequenote? O Eixo do Mal? Juntando os trapinhos com os países árabes descontentes, ou até com o senhor bin Laden, mais meia dúzia de africanos tipo Sudão, Nigéria e arredores, e até, porque que não o amigo Hugo Chavez (este fala fala mas ainda me parece o menos burro deles todos) com os pendericalhos da Bolívia, as FARC e outros demagogos.

Esperemos que não, mas do mal o menos.. talvez acabem com os "Morangos com Açucar". Em tempo de guerra todas as pequenas vitórias contam.

domingo, julho 02, 2006

paz podre

Portugal continua a ter as tradicionais ligações à antiga União Soviética (se calhar o antiga é que devia estar entre parênteses) em muita coisa.. maldito 25 de Abril, que não resolveste nada porque antes creio que também era assim, embora diametralmente oposta na esfera política.

Constata-se que nunca há divergências aquando da saída de ministros. Mais, e daqui partiu a comparação com a URSS, quem abandona o cargo fá-lo sempre através de um pedido de demissão por razões de saúde ou por razões pessoais. Esta porcaria dos consensos cheira mal. Discordar é pecado? Num grupo de 17 pessoas (tantos?) todos pensam o mesmo sobre tudo? E quando é nítido que não concordam nada de bom daí advém, excepto problemas de saúde e razões de força maior.

Até no meu Sporting isto se passou ainda à bem pouco tempo (Ribeiro Teles e Bettencourt). Eis que se passaram os problemas pessoais e num ápice que regressam. Sou a favor da transparência, com um certo grau de opacidade, vá.. Deu-me particular gozo este presidente dizer ao antigo o que ele queria ouvir para lhe deixar o cargo (outra vez URSS) mas felizmente lá veio a machadada. Foi isto que o fez ganhar as eleições. Só um senhor com um "jogo de cintura" típico de empreiteiro de construção civil para este tipo de manobras, ainda assim bem melhores que os pedidos de demissão por falsas razões, já que este tipo de jogada priveligia os fins em deterimento dos meios, ainda que isto não faça muito bem à coluna.

Para ser justo, Freitas do Amaral realmente sofre de problemas de coluna, de outra espécie dos anteriormente mencionado, mas sofre. Aliás, deles sofre à pelo menos 20 anos - diz quem sabe que já deles se queixava em 1986 quando se candidatou à Presidência da República - mas nem por isso deixou de se candidatar, nem tão pouco de aceitar o convite para Ministro quando não consegue estar fisicamente à altura das funções. O que me levou a escrever este texto não foi este engodo, mas o facto de virem os comunicadores oficiais do executivo garantir, senão mesmo jurar, que divergências não as havia, mais, nunca as houve. Este tipo de situação encontra paralelo num comentário que li noutro dia de Vitor de Sousa àcerca de Herman José e que dizia qualquer coisa como isto: não sei se ele é homosexual, e se soubesse não dizia.

E continua a paz podre no país dos consensos.. consensos nunca os há, mas sem eles, aqui, nada se faz..

E assim vai o ponta-de-lança da Europa

Saúda-se a nova Lei das Finanças Locais e o novo Código das Sociedades Comerciais mas cuidado, muito cuidado com a política fiscal. Li, e quando se lê na imprensa já se sabe que nem sempre é o que se diz, que o Ministro das Finanças não acha que a redistribuição deva ser feita na política fiscal. Este é um princípio discutível pois se não for na fiscalidade, logo agora que esta parece entrar nos carris, terá de ser feita à base de subsídios, o que me parece mais difícil de por em prática. Entendo esta declaração de intenções como preparação do terreno para uma aproximação à "flat rate" agora em voga nos países de Leste, mas não só. Temos unhas para tocar esta guitarra?

Saúda-se, e muito, a entrada em vigor (finalmente) do MIBEL, ainda que apenas para as empresas, por agora. Veremos se resulta. Finalmente se começa realmente a criar mercados ibéricos, que já existindo nalguns sectores, ainda não haviam chegado ao papel; e logo num sector tão politizado como a energia (eléctrica). Um comentário de reserva: este mercado serve para comprar e vender, mas (pelo menos em Portugal) até 2000 e troca o passo não haverão novas ligações à rede (excepto se ao estado interessar e pela chamada porta do cavalo) pelo que a solução dos ditos futuristas de passar a ser o cidadão individual a instalar pequenas unidades sobretudo hídricas e solares fotovoltaicas, que satisfaçam a procura dos próprios e possibilitem a venda do excedente continua na gaveta. Por outro lado continua a ser complicado (em termos de paciência) a obtenção de licenças para a própria instalação, como se não fosse uma coisa que interessasse estimular. Apesar de tudo, para um Iberista convicto, é uma coisa muito positiva.

E assim vai o ponta-de-lança da Europa, gordo e lento, devagar devagarinho, mas indo..

segunda-feira, junho 19, 2006

nostalgia da partida sem destino nenhum

"Foi sem mais nem menos
Que um dia selei a 12 5 azul
Foi sem mais nem menos
Que me deu para abalar sem destino nenhum

Foi sem graça nem pensando na desgraça
Que eu entrei pelo calor
Sem pendura que a vida já me foi dura
P'ra insistir na companhia

O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa
Não partiu para parte incerta
Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
Sem paredes, sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar

Tal vez
um
dia me en contre
As sim hmm
talvez me en contre

Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar
De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar
Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio
E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu

Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre

Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar
Será que existe em mim um passaporte para sonhar
E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar

Foi sem mais nem menos
Que um dia selou a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que partiu sem destino nenhum
Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer
Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer

Mas Deus leva os que ama
Só Deus tem os que mais ama"


o radio clube português partilhou hoje comigo este hino ao desafio. no meio do aperto de quem nos '80 da vida só cousas boas conhecia, a nostalgia bateu forte e a lágrima quase caiu. se banda sonora houvesse para os tais 15' esta seria uma grande candidata (a par da deep in it - saint germain). um tributo ao acto de partir; partir sem destino; partir por partir; partir para regressar..
e no meio das partidas a lado nenhum chegar, passando e conhecendo, pensando apenas em caminhar. talvez um dia me encontre.
mais do que chegar, mais do que o caminho, difícil, difícil é partir. renunciar ao que se deixa para trás. renunciar até ao que se disse que se fazia, e fazer.. indo. sentindo desafios que nunca ninguém sentiu. talvez.. um dia me encontre.
(e é dizer assobiando:) du-du-ru-ru-ru du-ru-ru-ru-ru du-ru-ru-ru...

quinta-feira, junho 15, 2006

o que diz o moleskine

"Fomos ensinados a ver a vida como uma busca, uma caminhada que, com sorte, terminava com significado, amor e uma conta poupança-reforma que manterá dourados os nossos anos dourados. No entanto, não há fim nem ponto de chegada, a busca nunca termina verdadeiramente. Não há nenhum cargo, camisa da Brook Brothers ou punhado de dolares que possa servir de linha de meta. É por isso que a concretização dos objectivos pode parecer tão desapontante como o fracasso"
Keith Ferrazzi

"Foi-me dado a observar, na maior parte de quantos deixaram memórias, que só nos mostráram claramente as suas más acções ou inclinações ruíns quando porventura as tomaram por proezas ou bons instintos, coisa que às vezes sucedeu."
Alexis de Tocqueville

"Existe em todos os sentimentos humanos uma flor primitiva, engendrada por um nobre entusiasmo que vai enfraquecendo sempre, até que a felicidade não seja senão uma recordação, e a glória uma mentira."
Honoré de Balzac

terça-feira, junho 13, 2006

alentejando


Deixo-vos aqui algumas fotos que relatam a evolução da obra, quais "Processos de Construção". Estamos no 16º mês de trabalho em obra, faltam aproximadamente 2 a 3 meses para o términus.







Parece que a Ministra da Cultura se encontra neste momento na Coudelaria de Alter com a nata do mundo equestre lusitano e em particular alteriense. Saúda-se, numa altura em que se equaciona o papel do Estado enquanto proprietário e (mau) gestor do seu património, a atenção dispensada a esta secular instituição.





Estamos abertos a visitas de segunda a sexta no horário laboral normal. Disponibilizamos capacete e água refrigerada







Deixo-vos com uma reflexão:

"De toda a resistência de atrito, a que mais atrasa o movimento humano é a ignorância" Nikola Tesla

quinta-feira, junho 08, 2006

ele disse e eu repito

"Existe violência porque diariamente prestamos homenagem à violência. Qualquer homem medianamente educado pode fazer fortuna preparando um espectáculo de televisão cuja brutalidade é fotografada com detalhes suficientemente monstruosos. Quem produz esses programas, quem os patrocina, quem é glorificado por actuar neles? Serão essas pessoas delinquentes psicopatas esgueirando-se em vielas sujas? Não, são os pilares da sociedade, nossos homens famosos, nossos exemplos de sucesso financeiro e social. Temos de nos começar a envergonhar e arrepender do que já fizemos, se quisermos começar a construir sensatamente uma sociedade pacífica, já para não dizer um mundo pacífico.
Um país onde as pessoas não podem andar em segurança nas próprias ruas não tem o direito de dizer a nenhum povo como se governar, quanto mais o direito de bombardear e queimar esse outro povo"

Arthur Miller «The trouble with our contry», artigo escrito para o New York Times em 1968

Não é este texto extremamente actual? Afinal de contas já la vão quase 40 anos.. Eu divido o artigo em 2 partes. Uma primeira em que sublinhando a violência lhe acrescentaria o voyuerismo para melhor adapta-lo aos anos que correm, ainda assim nem uma vírgula lhe tirava. E uma segunda parte composta pelo parágrafo que propositadamente separei do restante texto. Obviamente tratava-se de um piscar de olho ao Vietname e quem sabe à Coreia, mas mais uma vez nem uma vírgula lhe tirava. Talvez apenas o queimar visto que o napalm caiu em desuso (digo eu que por lá não ando nem nunca andei) mas facilmente se acrescentava a tortura que, por pudor ou apenas esquecimento o autor não referiu (se calhar considera a tortura um acto de guerra e se calhar tem razão).

Acrescento duas citações, ambas por Thomas Harris no I'm OK you're OK:

"A verdade é um crescente corpo de dados relativo àquilo que observamos ser verdade."

"A democracia só pode funcionar com um eleitorado inteligente."

sexta-feira, junho 02, 2006

alma mater

"Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo cualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás."


Se tem menos de 30 anos e conhece estes versos, é filho da revolução.
Um filho da revolução é alguém que não aprendeu a amar este país mas a sua história adulterada. É alguem que cresceu entre a nostalgia e a europa. Se para si os Greatest Hits of the 80's é a melhor banda sonora para viagens longas de carro você é defenitivamente um filho da revolução.


"Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né?"

"Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá!"


Eram estas as palavras aquando da fecundação, da gestação e do nascimento.. mas delas nos esquecemos todos os dias. Abril era sonho e por aí ficou. Não foi Abril quem nos fez mais felizes. Entreteve-nos uns tempos. Hoje é mais uma revista às tropas e discurso de cravo na mão que outra coisa qualquer. E assim tem de ser. Ainda hoje se evoca a Revolução Francesa e século das luzes. Abril foi a nossa década das luzes, da esperança e do pseudo-optimismo. Pronto a ser posto de lado e trocado pelo "eu não te disse? tava-se mesmo a ver".

É urgente o culto do Velho do Restelo. Só prestando vassalagem a esse senhor nos poderemos afastar do seu regaço. Reconhecei-o. Admirai-o. Fazei-lhe oferendas. Mas com ele não comungais.

Demasiado egoismo corrompe este país. Estamos, perdoem-me a redundância, iguais a nós mesmos.


Já sei que me vão falar de excepções, que ate somos os melhores do mundo nisto e naquilo, mas como uma andorinha não faz a Primavera.. por ca definhamos entre a novela das 7 e a novela das 10.

Não há altura melhor para se cortarem amarras. Farei um ultimato ao país que me tem refém. Se aí está a Europa, aqui estou eu. E são bem mais de 200km que nos separam. É todo o peso que de nós pende preso ao pequenismo. Como se o barco tivesse ganho pés e quisesse andar mas a âncora jaz no Cais das Colunas e daí não arreda pé. Antes só que mal acompanhado. Orgulhosamente só.

Pois que só fique. Este país se diz de emigrantes por alguma razão é. Cada vez mais me convenço que não foi para dar novos mundos ao mundo que nos fizemos ao caminho, mas para desta mentalidade apartar para não dizer a sete pés fugir.

"Tiveste gente de muita coragem
E acreditaste na tua mensagem
Foste ganhando terreno
E foste perdendo a memória

Já tinhas meio mundo na mão
Quiseste impor a tua religião
E acabaste por perder a liberdade
A caminho da glória

Tiveste muita carta para bater
Quem joga deve aprender a perder
Que a sorte nunca vem só
Quando bate à nossa porta

Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta

Fizeste cegos de quem olhos tinha
Quiseste pôr toda a gente na linha
Trocaste a alma e o coração
Pela ponta das tuas lanças

Difamaste quem verdades dizia
Confundiste amor com pornografia
E depois perdeste o gosto
De brincar com as tuas crianças

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar"

será que temos os dois pés no fundo do mar e não demos conta? será que a galera meteu água e afundou?

So te apetece dizer: é mesmo assim, não há nada a fazer
Mas se és filho da revolução acredita, tens de continuar a acreditar.
Não eramos na altura o país mais pobre dos 25. Alias nem sequer 25 havia. Outros vieram depois e já nos passaram. E nós cá continuamos a não querer ver.. a dizer que é possível, que já aconteceu no passado pior e ainda assim nos safamos. Então continuamos à espera que algo aconteça.. esperando..

"O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:

«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem são as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o monstrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alme teme

E
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»"


ainda há gente desta? que só no abismo se revela? que dá o peito à bala e o corpo ao manifesto?

e assim te digo:

"Addio, adieu, aufwiedersehen, Goodbye,
Amore , amour, meine liebe, love of my life."

até sempre, Portugal

cá te espero..

quinta-feira, junho 01, 2006

eles dizem salta e eu digo quão alto

portanto tive 6 anos no técnico e ganho menos que uma mulher-a-dias, que de resto trabalham bem mais que eu.

diz que a formação é o que tá a dar..

ainda não tive oportunidade de reproduzir os meus conhecimentos sobre o "ground-freezing" ou a utilidade do cilindro de pés-de-carneiro.

estou em crêr (se bem que há quem diga que este verbo não exista) que ainda estou por me cruzar com um engenheiro (licenciado) no mundo da sub-empreitada. se por um lado se perdem todas as piadas que ao longo dos anos se foram fazendo com base na análise de estruturas e mormente num seu instrutor, vão-se ganhando umas novas de vez em quando. já sem o requinte que só a teoria de kirkoff empresta ao assunto, mas envolvendo sempre o bolso de uma das partes.

o género de coisa que sempre útil para quebrar o gelo num urinol e sobretudo para distrair a vista a alguém enquanto se coçam as partes baixas. falo-vos dos acertos finais com sub-empreiteiros, no caso responsável pelos trabalhos de cofragem. de portátil para si virado ia entroduzindo os valores que se iam medindo nas plantas, nunca sem um aparte relativamente à dificuldade do trabalho em causa e ao desperdício de material daí resultante.

coisa que demorou um dia de trabalho com tanta discussão pelo meio e acabou com a reclamação de uns bons 1500m2 que supostamente não foram pagos. ora bem, que eu lhes andei a roubar 5 a 10cm em cada outra peça é sabido e reconhecido, senão que haveriam eles de reclamar? agora mil e quinhento metro é muito metro.. mas está bém pá.. já é tarde eu depois vejo isso.

lá analisei a coisa, conferi, comparei com os autos, com o projecto.. e o raio não devia fugir muito porque bate quase tudo certo.. aliás há ainda alguma coisa que foi feita mas que eles se esqueceram de reclamar logo isto não faz sentido.

para quem não está habituado a este tipo de tabela eu resumo: nas linhas os elementos executados; nas colunas o nº de elementos, o nº de faces, comp., larg.,altura, subtotal, total.

pois bem, o artista decidiu que umas certas vigas (atenção que apenas aquelas com áreas totais superiores a 200m2) tinham todas 2 faces quando a medição havia sido feita apenas como de uma face se tratasse.

eu fico sempre com algum peso na consciência quando tenho de executar estes pequenos cortes mas perante um esquema intrincado como este acho que lhe vou perder o respeito. se o senhor achava que aquilo passava.. ainda me disse ao telefone que era melhor ser ele a esclarecer isso pessoalmente porque eu poderia não entender o que estava na folha. felizmente sou amigo do excell o que me permitiu dispensar a mediação.

o futuro dirá da minha imaginação creativa aplicada à arte da subtracção. ganhasse eu à comissão e estava feito empreiteiro de furtos.

just victims of the in-house drive by..

quarta-feira, maio 31, 2006

empacotamento legal

Temos um dos mais completos e ao mesmo tempo mais utópico sistema legal/judicial/criminal/eu-sei-lá. A nossa vontade de não deixar nada de fora contribuiu para termos um Código Civil três vezes maior (em volume ou numero de páginas) que o Sueco, p.e..

Percebe-se, conhecendo os Portugueses, o porquê desta situação. Sendo nós utópicos e perfeccionistas, as nossas leis não podem ser senão irrepreensíveis. Têm, à partida, de focar todos os aspectos possíveis da matéria em causa e incluir excepções suficientes para dispensar adendas (o que raramente acontece como sabemos).

Ora, que ele não funciona bem sabemos nós, mas não é ele perfeito? talvez demasiado perfeito diria o amante do trocadilho-feito e da semântica repetitiva.

Existe outra forma de legislar, bem mais geral a princípio mas que depois se baseia num sistema de precedências, o chamado precedente legal. Uma lei geral não pode (nem quer) cobrir todos os casos e todas as excepções, confia no bom senso quer do cidadão que dela faz leitura, quer do juiz que a tem de aplicar. E se o bom senso não impera do lado mais fraco, abre-se um precedente.

Quantos precedentes se abrem neste país? Consideramos nós que um precedente é uma machadada na lei? No fundo se há precedente é porque a lei não cobria e a lei Tem de prever tudo e à priori. Isto é consequência, não-sei-digo-eu, da constituição proibir leis com efeito rectroactivo.

Sem deixar nada de fora, as leias deviam ser claras; ora nem uma coisa implica a outra nem tem sido essa a prática. Cada um faz a sua leitura e interpretação, tal é o português intrincado e deslizante da legalidade.

Levanto ainda um outro ponto, se as leis são feitas por legalistas como podem elas não passar na constituição? a pergunta era retórica. Também há constitucionalistas que as escrevem uma vez na vida (e o 25 já la vai), as revêm em cada outra década e de resto vão dando o seu palpite quanto à conjuntura e recomendando livros. Exceptue-se o Tribunal com o mesmo nome que cruza informações e cospe vereditos.

Não penso ser necessária mor explicação para fazer valer o argumento. O problema é que há muita gente que hoje em dia é necessária às empresas para encontrar vazios legais. Nalguma coisa haviamos de premiar a inovação e a creatividade.

Assim, proponho um Empacotamento Legal e um verdadeiro uso dos Precedentes Legais, dando aos juizes maior responsabilidade na administração do bom senso judicial.

Fica a ideia

(este texto contém ofensas graves a entidades e associações de representantes e não deve ser reproduzido sob qualquer pretexto, ficando assim o autor salvaguardado)

(com esta gente não se brinca)

domingo, maio 21, 2006

o que se diz por cá

"NOTICIAS INSÓLITAS

De vez em quando surgem do meio empresarial notícias extraordinárias que nos ajudam a compor melhor o retrato do país e a compreender alguns dos seus bloqueios, mas que muitas vezes não saem dos suplementos económicos e dos jornais da especialidade.

Noticias como esta:
mal chegou a presidente da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro extinguio 60 lugares de administração em várias empresas do grupo. Esses cargos não eram fictícios. Estavam ocupados e os seus titulares recebiam, como é de regra, remonerações muito generosas com as mordomias correspondentes. Aliás, a decisão seguinte de Granadeiro tem precisamente a ver com salários e mordomias, pois congelou os vencimentos, decerto por considerá-los excessivos, a oitocentos quadros do grupo.
Lê-se e custa a crer que uma empresa, ou um conjunto de empresas, possa continuar a funcionar com toda a normalidade quando perde, de um momento para o outro, nada mais nada menos do que 60 administradores, sendo eles 180 no total. Mas não há sinais de que a sua saída tenha provocado qualquer drama, nem sequer a menor perturbação na Portugal Telecom. Do mesmo modo que não existe uma fuga em massa dos quadros atingidos pelo congelamento de salários, com certeza porque não consideram a decisão tão injusta que justifique a sua revolta e o eventual abandono de funções.
Ora, se uma empresa pode viver normalmente sem 60 dos seus administradores, a pergunta que se impõe é só uma: o que estavam eles lá a fazer?(cont.)"
Fernando Madrinha - PRETO NO BRANCO - in Expresso 20.05.2006

agora digo eu: ora, sendo a PT apenas um exemplo, não admira que haja muita gente com vontade de fazer OPA's sobre empresas públicas portuguesas visto que não podem ser consideradas exemplos de gestão, longe disso. por estas e por outras continuamos nas carruagens de trás do comboio europeu. se calhar é porque sabemos que o revisor começa a picar lá à frente, quando ele se aproximar talvez tenhamos de saltar fora. assim como assim, apanhamos boleia e poupamos uns metros, que é como quem diz temos autoestradas, telemoveis e internet, ficou a faltar prudência e bom senso.

quinta-feira, maio 11, 2006

isolamento e desilusão são faces da mesma moeda

o sentido da vida é de tal forma pessoal e incompreensível que vai para milhares de anos se escreve sobre o assunto. ainda que alguém chegue ao seu, ou chegue a algum lado que seja com isso, provavelmente apenas funciona para o próprio.

diz quem sabe que uma boa forma de lá chegar é a chamada terapia Vipassana, que consiste em passar 10 dias sozinho sem falar com ninguém, excepto com o mentor ao fim do dia. 10 dias sozinho a meditar, que é como quem diz pensar na vida, onde se chegou e onde se quer chegar farão alguma diferença?

diz quem o fez que sim, pois quase sempre impomo-nos objectivos que apenas julgamos que nos farão felizes. o sucesso num objectivo consegue ser tão frustrante como o fracasso, quantas vezes não sabe a pouco por muito que seja?

quantos já escreveram sobre isto e outros que diariamente o fazem com resultados pouco mais que diminutos? não se procura aqui solução mas apenas falar sobre isso. coisa digna de registo é o facto de nada se conseguir sozinho, sobretudo a felicidade. por mais histórias de self-made man que me contem não me conseguem convencer, alguém e certamente não foram poucos teve de ter da ajuda em diversos pontos do percurso.

e admitamos que se lá chega, seja por que via for, que felicidade nos vem de festejarmos em frente ao espelho?

aproveito para contar uma história pessoal, que me devia ter servido de exemplo na altura. pelo menos ainda me lembro dela hoje para aqui relatar. são erros como este que não nos podemos dar ao luxo de esquecer. aliás, nunca nos devemos esquecer dos erros que cometemos.

andava eu no ciclo, 10 aninhos tinha, e um concurso foi feito na escola que frequentava, sobre o Darwin, a sua história e a sua teoria. penso que não era obrigatório, mas eu decidi participar. na verdade pensei nele, esbocei e fi-lo, mas em determinada altura tive a colaboração de uma amiga e colega de turma. como rapaz inseguro, convencido e arrogante que era (e que ainda sou), e porque verdade seja dita fiz o grosso do trabalho, queria ficar com os louros e por isso não puz o nome da minha colega no trabalho.

acabei por ganhar o concurso, escusado será dizer que se alguém me deu os parabéns para além da professora de ciências foram os meus pais, mas isso também não era problema meu era só inveja dos outros colegas pensei eu.

senti-me terrivelmente sozinho quando fui receber o prémio, a um sábado, no meio de pessoas cuja única cara conhecida era a do meu pai. e assim festejei, sozinho.. nunca mais falei nesse prémio a ninguém e tenho sinceramente vergonha de não ter partilhado esse momento com ela. nunca ela me disse nada sobre esse episódio e hoje damo-nos bem embora só nos vejamos de vez em quando, e o motivo por ela me ter ajudado na altura, julgo eu, era por ter qualquer paixoneta que propriamente partilhar a minha ambição de ganhar, ganhar, ganhar..

resultado, ganhei um livro, fiz a festa, apanhei os foguetes e se já era pessoa solitária na altura, bem, melhor não fiquei.. mas fiquei com os louros de ter ganho, pensava que era isso que eu queria! já na altura me fazia bem uma meditação profunda..

quem só me conheceu mais tarde, como os leitores deste espaço, não terá de mim a ideia que na altura os meus colegas tinham, até porque naturalmente este não foi um episódio isolado. mas como isto não é um diário de bordo, ficarei por aqui no que diz respeito a exemplos. hoje tenho apenas ligações ténues às pessoas que cresceram comigo, e foram as mesmas desde a 1ª classe até ao 12º ano. felizmente ainda vou a tempo de fazer as pazes comigo e com eles em relação a este periodo, mas por forma alguma o devo esquecer.

e o que tem isto a ver com o sentido da vida? bom, sei que nesse periodo raramente fui feliz e inclino-me a acreditar que se deve ao facto de querer ser feliz sozinho.. e por isso digo que não é possível. o espelho não é grande companhia.

por isso digo, saí e abraçai o mundo que dele são feitas pessoas e pessoas o fazem. cá está algo que parece tão inato a algumas pessoas que fui conhecendo mas que a mim me levaram muitos momento de sofrimento mais que outra coisa qualquer.

se o sentido da vida não são as pessoas, preciso de um retiro. de qualquer maneira acho que preciso. dizem que dar é melhor que receber. assino por baixo, nada melhor há que fazer alguém feliz. nada me deixa mais feliz que isso.

hoje tenho amigos, e sobretudo sei mesmo que tenho amigos que se preocupam comigo. sinal que é possível mudar e que vale a pena. vale mesmo.

um abraço a vocês que lêem isto que são o grosso deles. e um obrigado sincero. não desistam de me apontar falhas que eu não desistirei de as tentar corrigir.
lágrima

(bibliografia: nunca almoce sozinho - keith ferrazzi)

quarta-feira, maio 10, 2006

tratado do tino e do desatino


é facto não desmentível que somos um povo adverso à mudança, ou se preferir, acomodado. isto porque mudar é chato. um povo de desculpas para ficar como está.

bom, somos e daí nem todos. felizmente pois bem. há um ponto interessante no qual tenho reflectido e que não é um espelho. o que nos leva a mudar? se a constância é a regra o que leva uma pessoa a levantar-se do sofá?

pois que apertar os calos funciona, mas calo apertado é ajuntamento certo no terreiro do paço. pois bem, este seu narrador acha-se na presunção de ter descoberto a maleita. a inveja. nada funciona melhor que essa necessidade tão humana como a secreção de fluidos. sentimento este que deriva da mais importante necessidade humana, ainda que bem contrariada desde tempos medievais e ainda nos dias que correm, que é a aceitação e reconhecimento aos olhos dos outros.

a inveja faz-nos superar. e por vezes supera-nos mesmo. põe-se à nossa frente e deixamos de ver. mas raramente vem sozinha. faz-se acompanhar, e bem, pelo aqui designado síndroma do braço engessado. metáfora engraçada que significa a falta de sinceridade com que exprimimos a inveja que cá dentro lateja. um braço engessado não se dá a torcer.

recomenda-se franqueza pois então. e vulnerabilidade.

a expressão de limitação pessoal presente numa declaração de vulnerabilidade é algo de supremamente belo e, ainda que simples, nem sempre compreendido.

ora a vulnerabilidade não é coisa que se apregoe. nem ficava bem. soaria a vitimização, e disso está o povo farto (pelo menos este povo que aqui vos escreve). assim, o ser vulnerável necessecita de certa quantidade de alteza, ainda que plebeia, que acompanhe bem e disponha a gosto. a falta desta condimentação conduz à rejeição de toda a mudança que se avizinhe.

para mudar é necessário interiorizar a necessidade, e esta não entra facilmente na mente do que não precisa de ajuda. mas a inveja, essa senhora, não pede licença. entra e interioriza-se como se fosse da casa. apenas temos de ter o cuidado de não a deixar sozinha, ainda que mui solitária ela possa ser.

e posto isto, ao trabalho que se faz tarde.

domingo, maio 07, 2006

crónicas da ampulheta

o tempo é finito. entre o nada fazer e o fazer tudo como quem nada faz ele passa.. e passa..
diz o duarte que é um rapaz com muito tempo nas mãos digo eu que tem dias. aquele que não seguramos nas mãos não nos pertence. é-nos pedido ou furtado por alguém, ainda não caiu em desuso pelo povo, até porque o povo é quem mais sabe, dá-me um minutinho (do seu tempo) ? mas nem todos pedem assim. uns são-nos levados, e assim o poder da escolha já não nos pertence. ter tempo é poder escolher, ou escolher ainda que seja uma não-escolha, é uma escolha ainda assim.

e vai ele como quem não quer a coisa, passando..

a nós vem-nos a percepção e com ela a vontade antítese da escolha. uma vez por outra escrevemos, que é como quem sombreia diagonais em folhas aos quadradinhos em ciclos de 60 a 120 minutos. já que nada aqui faço, disfarço.

foram-se os quadradinhos, veio o papel, qual papel? o papel, qual papel? é o que nos pagam pelo nosso tempo. então fazemos assim, damos o nosso tempo livre, tanto quanto possível, de quadradinhos e vós dai-nos o papel, qual papel? assim vamos por ora..

...entre papeis enquanto o tempo passa.

sábado, abril 29, 2006

aprender a lidar com as pessoas

aprender a lidar com as pessoas é em si uma ciência mais agrícola que social. é importante saber da educação dos burros e dela extraír a necessária informação adaptando-a à pessoa em causa. note-se que sendo o burro um animal em vias de extinção, a classe social do 'burro' está em clara expansão.

assim, é importante apreender o conceito do pau e da cenora e dos efeitos que a variação proporcional do uso destes mecanismos produz no indivíduo objecto. sou da opinião que se deve sempre começar pela cenoura até por uma questão de sinceridade; deve-se mostrar ao indivíduo que de facto se tem cenouras para dar.

é talves mais importante ainda a aplicação do pau na primeira oportunidade que apareça e não esperar por uma maior oportunidade. se se esperar, meus amigos não tenhais dúvidas, ela vai aparecer; nessa altura, porém, a eficácia do tratamento é esperada menor, logo maior intensidade deverá ter a 'paulitada'.

assim, ao tratador recomenda-se pau e cenoura mas sobretudo bom senso na aplicação dos mesmos, sem descurar ambas.


existe ainda outra forma educativa no tratamento destes animais, mas julgo-a menos educativa e mais remedista. é o caso das palas. burro que se distrai com o que não deve, palado se deve tornar. assim, também ao indivíduo devem ser postas palas se necessário para lhe corrigir os desvaneios da atenção.

pala, esta, que deve se ir retirando progressivamente se progressos houver, pois não é desejável que o indivíduo siga em frente apenas porque não pode ver para os lados. deve ele mesmo perceber dentro do seu campo de visão em que percentagem do mesmo deve aplicar-se.


e como burros somos todos, não exitemos em pedir pau quando nos aprover para nosso próprio bem; de pedidos de cenoura está o tratador farto.

sexta-feira, abril 21, 2006

o senhor doutor é prudente?

debruço-me hoje sobre o Homem, alias como sempre..

qual será a melhor qualidade do homem?

sempre tive a Inteligência em mente para responder à questão.

ontem, finalmente acabei de ler A República de Platão, e tal como é dito no prefácio da edição que adquiri, o tema central do livro é (ou talvés seja) a Prudência.

Julgava a prudência como algo acessório à inteligência, mas secundário. é sobre este aspecto que escrevo hoje. será a inteligência que leva à prudência? haverá inteligência sem prudência? há esperteza sem prudência. haverá prudência sem inteligência? haverá prudência sem medo? haverá prudência sem preconceito?

o homem é um ser imperfeito. a imperfectibilidade do homem é talvés o aspecto inerente à condição humana mais enterrado na lama pública dos nossos dias. hoje, como sempre? busca-se a perfeição. mas não se busca a perfeição pelo caminho que a ela conduz. como tudo, busca-se o fim pelo título e pelas honrarias.

a busca da perfeição é uma busca sem fim, derivada do conceito de imperfeição inerente ao homem. esquecido que tem sido é preciso ser lembrado.

o caminho é longo e cheio de desilusões. muita metáfora já nasceu nesta estrada, parida por gente bem mais capaz; não vou por aí.

sendo que não leva a lado nenhum em concreto, não pode ser apresentada condecoração. este senhor tentou, aquele também. mas ninguém conseguiu, tal como ninguém conseguirá e muitos endoideceram a tentar..

recomendo prudência sobretudo na língua.. que isto de falar, muitos falam.. falam..


outro aspecto interessante em Platão, para além de há 2500 anos atrás saber mais que muito boa gente hoje, e ter escrito e ensinado na esperança que se aprendesse.. e na mesma tudo ter continuado ainda que ele exista! é a sua mui curiosa afirmação dos ensinamentos obrigatórios a um filósofo.

filósofo é um amante da sabedoria

um filódoxo é um amante da opinião

parece-me que esta distinção se tem perdido no tempo


mas dizia eu, ou melhor dizia ele que as ciências mais importantes para se chegar à filosofia são a matemática no patamar mais alto, a logística(cálculo), a ginástica, a música e a astronomia num outro patamar.

ora, eu não conheço bem os cursos de filosifia por aí ministrados mas não me parece que estas matérias façam parte da bibliografia. em primeiro lugar e logo a mais importante a matemática!

ora quem vai para estas matérias é geralmente mais como fuga que como busca e logo, diz ele, da mais importante matéria que à filosofia importa.

e esta hein?

assim, talvés filodoxia fosse um mais apropriado termo para descrever o curso e filodoxos um melhor adjectivo para descrever os nobres senhores. que isto das opiniões é como as vaginas dizia o outro, cada um tem a sua e quem quiser dá-la, dá-la..

recomenda-se pois, prudência..

quinta-feira, abril 20, 2006

quando não há tempo para escrever..

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!


diz Kundera n'A Ignorância que são os países pequenos que têm mais poetas

domingo, abril 16, 2006

aproveitemos para viajar enquanto é tempo

bibliografia aconselhada: the long emergency - james howard kunstler http://jameshowardkunstler.typepad.com/

há medida que a gasolina fica mais cara os sabichos dizem que é a conjuntura.
facto: metade dos 2 triliões (à americana) de barris de petróleo estimados existirem na terra antes de 1850 já foram consumidos
facto: nos últimos anos, em cada ano menos poços de petróleo são descobertos e em locais cada vez mais complicados de explorar
facto: nos poços maiores o crude cada vez tem menor qualidade, logo mais dificil refinação e mais complicado de lhe aceder, logo mais energia gasta. hoje por cada barril gasto para extrair o retorno é de 2. em 1850 eram de 1:28
facto: todos os anos a procura cresce e a tendência é crescer cada vez mais depressa com a procura na China e na India e restantes países que passem do 3º para o 1º mundo (há algum 2º?)
facto: os estados unidos deixaram de ser autosuficientes durante os anos 90

especulação: países como a Arábia Saudita, Irão, Iraque, admitiriam que as suas reservas são na verdade inferiores?
especulação: as empresas que exploram e vendem petróleo ou derivados admitiriam que as suas reservas são na verdade inferiores?

a mim parece-me que a lei da oferta e da procura determina uma subida sem fim até ao fim

diz um senhor que a este ritmo temos 37 anos até ao fim

disse um português-tipo: eles depois inventam outra coisa

á medida que o pretóleo sobe a globalização desacelera. embora as comunicações continuem globais, o trasporte que envolva petróleo (quase todos hoje em dia) fica mais caro. até ao ponto onde deixará de ser rentável.

viver fora da cidade e usar o carro para fazer + de 100Km/dia custe 20€.. depois 30€.. ad roturum

temos a electricidade e outros meios para a produzir. afinal de contas é a forma mais fácil de transportar energia e a mais facil de transformar de novo em energia mecânica. o problema é produzi-la sem auxílio do petróleo de nenhuma maneira. nem na construção, nem nos aparelhos de converção, nem em todos os acessórios.

parece-me que temos de começar a pensar nisto para não sermos apanhados com as calças na mão. não é fácil convercer as massas deste facto: o nosso estilo de vida vai mudar. quer seja agora, quer seja no futuro. como agora não vai ser..

parece-me que tem de haver algum bode-expiatório para as massas. sera George W, a familia Saudi, Mahmoud Ahmadinejad, bin Laden..

crise de energia ---> WWIII ?

crise de energia ???

qualquer combustível fóssil, por definição não dura para sempre. até se esgotarem andaremos a saltar entre um e outro. por ordem de custo obviamente. sejam eles gas natural, carvão, urânio, hidrogenio(?)..

especulação: quem sabe se não temos uma nova idade do gelo entretanto dizem outros.

somos todos loucos?

tributo a Lisboa

Parava no café quando eu lá estava
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava
a bica, ao melhor dos seus ouvintes

As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Num gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao sorrir agradecia

São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar

Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principal

Compramos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
De ele não aparecer pela manhã

São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar

Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixamos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia

E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueam
Sentado la continua a cravar
Beijinhos as meninas que passeiam.

São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios correm para o mar

(João Monge)

sábado, abril 08, 2006

contemplações

sentei-me na margem do Tejo a pensar onde estou e perdi-lhe o rumo.
aspirei a brisa e o entardecer junto ao rio que me viu nascer.
ao ritmo das velas cortei caminho de uma vida sem sentido.
a conclusão é sempre a mesma, mas é bom vesti-la cada dia de uma forma diferente.
dou comigo a pensar a pensar na morte. que mais se pode fazer enquanto se vive?
é a morte que me faz viver. e é para ela que vivo. todos somos pequenos à luz da sombra.
a penumbra vive em mim. a frugalidade faz-me cada vez mais sentido.
oscar wilde disse: a consistência é o último refúgio das pessoas pouco imaginativas.
o tempo esqueceu-se do relógio, mas não parou por isso. nem sequer voltou para trás.
seguiu o seu caminho indiferente a tudo. tenho tanto a aprender com ele. e veio-me à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da minha vida.

quinta-feira, abril 06, 2006

a desilusão bate em vagas

reparo rádios antigos na esperança que captar as frequências de outrora.

um atentado

nós somos um povo com pena.
pela história que atesta e retém
dos que impedidos de ir mais além
lograram enganar o sistema.

honra aos vencidos, vencedores morais
penando de mãos a abanar
rogando de braços no ar
orgulhosos reconhecimentos gerais.

e vai o povo a sorrir à rua
com panos e faixas bramindo:
fogueira que a bruxa flutua.

nós, de cara esmola subsistindo
ao relento dormindo e à luz da lua
minguamos todos assim, mentindo.

o salto com vara

o tempo estava tão feio que parecia que se agarrava à pele. pulando fronteiras Rahzel foge dum passado sem presente e dum pesadelo sem despertador. o livro de carimbos bordeaux com letras douradas continua em branco.

daí a minha minha amiga não passa. deste lado não entram pobres de espírito. escusa de tirar das costas a mochila.

mas tirou. deixou-a caida aos seus pés, puxou as lágrimas e desandou os passos que conseguiu improvisar. tal era a cara de desânimo e frustração que o-das-patentes ficou sem reacção, a meio entre a satisfação de uma recusa veemente dada com o desespero de se deparar com um teatro novo, um filme para o qual não lhe deram guião. e agora tinha de improvisar. já o realizador havia dito acção e a'o-das-patentes o esturro não lhe chegara ao nariz.

uma pena pensa Rahzel. não é o autocarro, é o posto fronteiriço.

foi dada como morta. tal como o-das-patentes, mas deste ainda se encontrou a dentadura. de Rahzel sobrou o livrinho bordeaux e umas fotos com espingardas cruzadas em fundo. sinal X a marcar o local. uma quarta-feira como as outras.

passou a fronteira na confusão. anda a monte.

quarta-feira, abril 05, 2006

cai neve em nova iorque

Cai neve em Nova Iorque, faz sol no meu País, faz-me falta Lisboa para me fazer feliz

05 04 2006 está de chuva lá fora

Ontem assisti à entrevista mais inquietante dos últimos tempos. António Lobo Antunes à conversa com Ana Sousa Dias. Um escritor que foge de luzes como moscas da água. Genialidade à parte há que reconhecer a irreverência e o espírito inconformado. Alguém que busca desde algum tempo a esta parte algo intrínseco à natureza humana, a profunda liberdade individual, confinada por uma cerca de preconceito pela sociedade que nos é mais próxima e querida. Liberdade tal que nos leva por um lado a um forma de loucura, “todos nós somos muitos”, “ouvimos muitas vozes”.

Se em verdade A.L.A. pode dar ao luxo de tal comportamento que em nada belisca a sua figura de escritor, antes pelo contrário, é suficiente para criar uma aura de mistério quase sobrenatural.

Faz falta gente irreverente neste país. Parecemos um povo de carneiros. Aos pulinhos méé méé.

O que os outros vão dizer? Quem são os outros e que direito têm os outros de opinar acerca do que desconhecem? Sem separar o trigo do joio, porque não é de uma luta de classes que falo, de classes normais. Estão-se a separar novas classes. Classes de educação. E os não educados terão grandes dificuldades. Não sou eu que o digo, mas concordo plenamente.
Educação e preconceito são limites da mesma linha. A sorte é tudo o que rodeia. E nós andamos por aí. Não faz sol no meu país.

quarta-feira, março 29, 2006

à e tal porque é jovem

a reboque das contestações em frança relativamente ao cpe, reuniram-se ontem em lisboa cerca de 1000 pessoas a protestar contra a precariedade do emprego para jovens em portugal. quando lhes colocaram um microfone à frente da boca disseram "isto está cada vez pior para os jovens" literalmente à-e-tal-porque-é-jovem. bom, isto merece a minha reflexão.

se alguem com 60 anos dissesse isto está muito dificil, arranjar emprego agora é complicado. ou com 50.. não concordando com a substancia ainda diria pois, agora se calhar já é tarde. não é, mas como é uma geração diferente, habituados a muitos anos de maldizencia em relação ao estado ainda vai que nao vai.

agora meninos na casa dos 20 dizerem que isto está mal? com que então, o estado deve dar emprego a um jovem para toda a vida porque é jovem e portanto têm direito a ter emprego e sobretudo têm direito. mas por que raio é que têm direito a ter emprego? não deviam antes mostrar o porquê desse direito? à-e-tal-porque-diz-na-constituição. bom, meus amigos, há muita mata para limpar..

mas não, querem emprego à porta de casa, se não for à porta querem ajudas de custo. olha eu também quero mas acho que primeiro tenho de mostrar que mereço. querer quero muita coisa, ter direito é que é mais complicado..

em portugal uma entidade empregadora (pública ou privada) não pode despedir nenhum trabalhador (regra geral). embora muita gente ainda não se apercebeu disso. bom, se eu tivesse uma empresa, sabendo que não posso despedir, então também não empregava porque se emprego alguém que me diz que é muito bom nisto e naquilo e depois não faz a ponta e eu não a posso despedir.. epá, mais vale não empregar.

daí surge a tal precaridade, porque para fazer crescer a empresa preciso de contratar, mas como só posso despedir com grandes esquemas (grandes e caros) não tenho outra maneira de contratar. como isto não é facil de explicar às massas anda tudo maluco em frança.

eu aceito o cpe. venha ele! se for despedido paciencia, quem perde é a empresa que me mandar embora e quem ganha é a que me empregar a seguir. andei a aprender e posso usar isso para obter melhores condiçoes no proximo emprego. obviamente tenho de ter uma certa confiança em mim mesmo, mas se eu não acreditar em mim quem acreditará?

porque raio querem emprego se não oferecem trabalho? porque havia alguem de dar emprego a ti se há outros 1000 iguais a ti a fazerem o mesmo pelo mesmo preço (não é bem assim mas admitiremos por ora)? porque tens direito a emprego?

quanto mais gente vejo a protestar em frança mais penso para mim se calhar ainda temos (portugal) hipoteses.. se os franceses não estao dispostos a trabalhar talves nos estejamos. mas sei que nao é verdade. as coisas sao como sao. é preciso uma certa educação para perceber isto. felizmente tive-a. tenho sincera pena de quem segura panos vermelhos na mão, se calhar recebem por isso.

espero que o nosso primeiro tente por o cpe em portugal. mas nao digo isto do fundo do coraçao, porque se ele tentasse provavelmente acabavamos como frança e ele nao saia nada bem disso para nosso (portugal) mal. mas um dia em que as coisas ja estejam perdidas para ele espero que tente, nem que seja para ver a reacçao. as vezes é preciso saber onde estamos para saber o que fazer.

vejo muita gente preocupada com o seu emprego, acaso não o merecem? se o merecem porque têm medo? se os vossos patroes forem parvos e vos mandarem embora mostrem-lhes como se enganaram.. não gritando na rua mas trabalhando para outro que vos melhor saiba aproveitar. se existem 50000 sociólogos outros tantos psicologos terapeutas da fala advogados de causas inuteis e outros que tais (sem qq menosprezo) que culpa tenho eu que nao tenham sabido escolher o vosso curso? que culpa tem o país? devemos darvos dinheiro porque passaram 5 anos a pagar propinas a escolas privadas e agora ninguem vos paga? nem sequer vos pegam? subsidios sim, quando se justifica. mas nao devemos pagar todos pelos erros de alguns.

recordando o grande ricardo, nas trocas economicas, todos ganham. saibam ganhar. aprendam a ganhar.

aproveito para deixar um aviso sincero à malta dos protestos, porque vejo isto andar nesse caminho:
se eu não tenho direito de lhe partir os vidros do tractor, você também não tem direito de me cortar a estrada.

segunda-feira, março 27, 2006

antigamente é que era

nasci cedo demais, não nascemos todos ?

considero-me parte da ultima geração pré-internet. ainda fiz grande parte da minha mocidade à custa de K7, VHS e telefone fixo. que oportunidades imensas surgem a petizes que não ainda puberes e ja trocam SMS com as meninas bonitas da turma. no meu tempo jogava-se ah bola, uma vez que eramos so rapazes. nao havia numeros cor-de-rosa na minha lista. a nao ser para festas de aniversario verdade seja dita.

por outro lado, faço parte da ultima geração que soube o que era estar incontactavel. a partir do momento em que se dizia (na altura perguntava-se e pedinchava-se a bem dizer) vou sair pa dar uma volta ;) e se enumeravam o local de destino e mais importante as companhias, nao havia nada a fazer. estivesse eu a dormir grog no chao da estaçao de comboios de cascais sem maneira de voltar para casa e nao havia maneira de partilhar a situaçao. eramos a geraçao desenrasca. olha vou a pé, que sa foda. deixar as chaves dentro de casa e fechar a porta por fora era outra daquelas. quantas tardes passei sentado nas escadas meditando sobre o bem que uma ida aos bolsos na altura certa poderia fazer.

no entanto ha algo que hoje os miudos nao sabem (digo eu). na minha altura, os espertinhos enunciavam as coisas que "ja haviam na america", frases que rematavam invariavelmente com a expressao, este país é uma merda. hoje já ha macdonalds e tvcabo, mas sera que alguma coisa mudou? chegou ai a america, temos onde gastar dinheiro. dizem-me os meus amigos as ultimas novidades de telemoveis, consolas portateis e jogos de computador. afinal as coisas se calhar nao mudaram assim tanto. para mim pelo menos, dantes nao tinha dinheiro, hoje se calhar ate tenho, mas tb tenho outros sitios onde o gastar e onde o dou por melhor empregue.

sinto-me bombardeado por publicidade. publicidade em todo o lado. coisas boas e que ate davam muito geito. quero ver os golos do meu clube onde quer que esteja, quero falar ao tlm sem pensar no que vou pagar no fim do mes, quero ter um BMW e começar a pagar so ao fim de um ano, quero comprar casa e nao me preocupar com os juros nos primeiros 5 anos, quero 500 a 5000€ na hora sem problemas nem papelada, ai.. quero tanta coisa!

é tudo tão facil..

nao tenho pais ricos, nao jogo no euromilhoes, mas tb nao vou ao BES. tenho muito espaço no colchão. nao devia haver publicitarios nem jornalistas, as artes parciais e enganativas deviam ser banidas. continuo a gostar de enfiar tudo no mesmo saco.

resta-me esperar que estes truques manhosos resultem no maior numero possivel de pessoas. vou deixar de criticar estes senhores. enganem ah vontade. sejamos parvos pois entao. talves sobrem assim mais oportunidades para mim que sou rato e espertinho e egoista e quero tudo so para mim sem dar nada a ninguem.

depois de um blog menos consensual, finalmente obtive alguns comentarios criticos que sinceramente me agradaram, tenho leitores vivos e opinantes. obrigado a vos.

bou cre juga ?

sexta-feira, março 24, 2006

Desci hoje ao Pireu para vos fazer as minhas preces

O que andamos nós a fazer na vida ?

já aflorei estaa questão num post recente mas decidi voltar à carga, pela importância que dou ao tema, por um lado, mas pelo desnorte que vejo à minha volta (na sociedade em geral).

credos à parte, e deles retiro o "como" mas não o "porquê", que fazemos entre o nascer e o morrer? que caminho escolhemos, o do justo? ou o do injusto? (p.e. apenas para simplificar)

peço ao leitor que tome um segundo para si, esqueça o trabalho, a escola, a namorada, a família e pense apenas na imensa liberdade individual. e depois reflicta no que quer fazer entre a vida e a morte.

eu escolhi o conhecimento. já que nada de material daqui se leva, ainda que não sendo certo, se alguma coisa se levar será o conhecimento. o "saber de experiências feito"

esta minha franqueza e firmeza de convicções não me tem dado muitas alegrias verdade seja dita. mas mantendo-me hirto sigo firme de vontade. chega de jogar com as palavras, vamos ao que interessa.

por não ter (ainda) um livro de citações (,embora já o tenha identificado numa livraria perto de si) não posso precisar quem me iluminou sobre esta questão, mas fê-lo com qualquer coisa tipo "é nossa (enquanto intelectuais) a responsabilidade de não deixar morrer (ou seria perpectuar?) os clássicos".

infelizmente, ja havia gasto uma boa maquia em romances e romancinhos quando li isto (ou quando a minha mente verdadeirmente o processou).

assim, encontro-me agora (depois de ter arquivado a referida pilha de livros) de braço dado com "A República" de Platão, achei que seria um bom porto de partida ou talves simplesmente estivesse ali a olhar para mim e naquela troca de olhares seduziu-me, o malando.

pois não é que há 2500 anos, numa altura em que telemóveis, televisões e computadores não eram de acesso generalizado, as questões de princípio de JUSTIÇA, enquanto escolha do caminho a seguir (recto ou corrupto para simplificar) não se alteraram numa vírgula.

a imutabilidade da consciência humana surpreende-me. nada se alterou. não digo pouco, digo nada. e mais, nem a individual nem a colectiva, por mais que uma boa educação possa (e de facto acho que faz) fazer a diferença na escolha do caminho.

como aqui não há contraditório a retórica é toda minha, assim não me alongo mais e espero por vós para seguir o debate. mas relembro: no dia que me encontrasse com Platão seria interessantíssimo discutir tu-cá-tu-lá questões eternas, enquanto que os pequenos prazeres (de alguns pois bem) lhe passariam ao largo. quem sou eu para lhe explicar o que são os morangos com açucar.

Não deixemos morrer os clássicos, ainda que no fim do dia não tenhamos jornalistas à beira, á eternidade será nossa. se não houver eternidade (e isso dará muito blog) bem, também não haverá ninguém para partilhar os dzrt, ainda assim salve-se antes o ludwig wan que no bote não cabemos todos.

a quem deste post fizer uma leitura "pequenina": posso sempre tornar-me num nuno rogeiro e mandar bitaites sobre tudo e mais alguma coisa. não tendo um palminho de cara, não esquecer: quem tem boca vai a Roma.

sábado, março 18, 2006

o preconceito espelhado na tua face

se tens o preconceito espelhado na face, a ti te digo:

enojas-me mais do que eu a ti!


tenho lido algumas opiniões de gente que escreve nos jornais (note-se que evitei dizer importantes) sobre a questão nuclear. embora esteja a falar deste assunto em particular podia-se facilmente estender a outras matérias, como facilmente se pode deduzir. e então pergunto, que sabem essas possoas sobre a energia nuclear para além de que houve um acidente em chernobyl?

acho que o NAO vale tanto como o SIM se fosse uma pergunta de sim ou nao. sou a favor confesso-me e explico porquê.

deixamos de depender das birras de países (ou melhor, líderes de países) como árabes em geral (sem ofensa) nigeria venesuela
deixamos de emitir quantidades enormes de CO2 devido à queima de petroleo, gas natural e carvao (sim, a electricidade que vem das barragens meus amigos.. peanuts)
aumentamos o know-how, formamos tecnicos, desenvolvemos conhecimento
é a forma mais barata de produzir electricidade (descontando os custos de desmantelamento, mas se funcionar bem não ha razoes para desmantelar) e mais barato produzir significa mais barato para o consumidor

riscos ? SIM, há riscos! meeeeeeeeedo, muito medo dos riscos. somos o mais onde há mais acidentes de automovel. o risco de entrar no carro são enormes. deixamos de conduzir ?


não digo aos criticos para se calarem, de maneira nenhuma. precisamos deles e muito!! com o actual clima de receios e duvidas, tenho a certeza que as centrais portuguesas serão as mais bem controladas e vigiadas do mundo. ou alguem acha que nos (a quem é a favor) interessa morrer de radiações?

pergunto a esses senhores se sabem como funciona uma central nuclear ? e ate posso dar a resposta NÃO!

como é que se tem medo de uma coisa que não se sabe como funciona ?

PRECONCEITO


esses senhores não gostam de técnicos. até arranjam palavroes para nos classificar. tecnocratas. somos o país que forma advogados, sociologos, jornalistas e psicologos. deviamos exportar esses senhores. a seguir à India devemos ter os operadores de call-center com mais qualificações, como diz o nosso amigo Jardel.. PORQUE SERÁ ??


FORMEM-SE ENGENHEIROS.


este blog não é imparcial. recomenda-se moderação na sua leitura.

e dou um conselho de graça (ja tive de pagar por um mas acho que esse valeu a pena que o rapaz é um bom rapaz e alem do mais fazia anos)

O MUNDO É PLANO. thomas l. friedman

chamem-me o que quiserem, mas se for "preconceitooso" arriscam-se a levar um banano. leiam. aprendam. informem-se. discutam. falem. perguntem. mas antes de escreverem no jornal, dizerem na tv, abrirem a boca em público!! porque os portugueses sao tao burros que acreditam em voces. têm medo e preconceito e juntam-se a voces porque... é mais fácil ser do contra, desfilar tractores, levantar panos do que aprender. SERÁ?