sábado, abril 29, 2006

aprender a lidar com as pessoas

aprender a lidar com as pessoas é em si uma ciência mais agrícola que social. é importante saber da educação dos burros e dela extraír a necessária informação adaptando-a à pessoa em causa. note-se que sendo o burro um animal em vias de extinção, a classe social do 'burro' está em clara expansão.

assim, é importante apreender o conceito do pau e da cenora e dos efeitos que a variação proporcional do uso destes mecanismos produz no indivíduo objecto. sou da opinião que se deve sempre começar pela cenoura até por uma questão de sinceridade; deve-se mostrar ao indivíduo que de facto se tem cenouras para dar.

é talves mais importante ainda a aplicação do pau na primeira oportunidade que apareça e não esperar por uma maior oportunidade. se se esperar, meus amigos não tenhais dúvidas, ela vai aparecer; nessa altura, porém, a eficácia do tratamento é esperada menor, logo maior intensidade deverá ter a 'paulitada'.

assim, ao tratador recomenda-se pau e cenoura mas sobretudo bom senso na aplicação dos mesmos, sem descurar ambas.


existe ainda outra forma educativa no tratamento destes animais, mas julgo-a menos educativa e mais remedista. é o caso das palas. burro que se distrai com o que não deve, palado se deve tornar. assim, também ao indivíduo devem ser postas palas se necessário para lhe corrigir os desvaneios da atenção.

pala, esta, que deve se ir retirando progressivamente se progressos houver, pois não é desejável que o indivíduo siga em frente apenas porque não pode ver para os lados. deve ele mesmo perceber dentro do seu campo de visão em que percentagem do mesmo deve aplicar-se.


e como burros somos todos, não exitemos em pedir pau quando nos aprover para nosso próprio bem; de pedidos de cenoura está o tratador farto.

sexta-feira, abril 21, 2006

o senhor doutor é prudente?

debruço-me hoje sobre o Homem, alias como sempre..

qual será a melhor qualidade do homem?

sempre tive a Inteligência em mente para responder à questão.

ontem, finalmente acabei de ler A República de Platão, e tal como é dito no prefácio da edição que adquiri, o tema central do livro é (ou talvés seja) a Prudência.

Julgava a prudência como algo acessório à inteligência, mas secundário. é sobre este aspecto que escrevo hoje. será a inteligência que leva à prudência? haverá inteligência sem prudência? há esperteza sem prudência. haverá prudência sem inteligência? haverá prudência sem medo? haverá prudência sem preconceito?

o homem é um ser imperfeito. a imperfectibilidade do homem é talvés o aspecto inerente à condição humana mais enterrado na lama pública dos nossos dias. hoje, como sempre? busca-se a perfeição. mas não se busca a perfeição pelo caminho que a ela conduz. como tudo, busca-se o fim pelo título e pelas honrarias.

a busca da perfeição é uma busca sem fim, derivada do conceito de imperfeição inerente ao homem. esquecido que tem sido é preciso ser lembrado.

o caminho é longo e cheio de desilusões. muita metáfora já nasceu nesta estrada, parida por gente bem mais capaz; não vou por aí.

sendo que não leva a lado nenhum em concreto, não pode ser apresentada condecoração. este senhor tentou, aquele também. mas ninguém conseguiu, tal como ninguém conseguirá e muitos endoideceram a tentar..

recomendo prudência sobretudo na língua.. que isto de falar, muitos falam.. falam..


outro aspecto interessante em Platão, para além de há 2500 anos atrás saber mais que muito boa gente hoje, e ter escrito e ensinado na esperança que se aprendesse.. e na mesma tudo ter continuado ainda que ele exista! é a sua mui curiosa afirmação dos ensinamentos obrigatórios a um filósofo.

filósofo é um amante da sabedoria

um filódoxo é um amante da opinião

parece-me que esta distinção se tem perdido no tempo


mas dizia eu, ou melhor dizia ele que as ciências mais importantes para se chegar à filosofia são a matemática no patamar mais alto, a logística(cálculo), a ginástica, a música e a astronomia num outro patamar.

ora, eu não conheço bem os cursos de filosifia por aí ministrados mas não me parece que estas matérias façam parte da bibliografia. em primeiro lugar e logo a mais importante a matemática!

ora quem vai para estas matérias é geralmente mais como fuga que como busca e logo, diz ele, da mais importante matéria que à filosofia importa.

e esta hein?

assim, talvés filodoxia fosse um mais apropriado termo para descrever o curso e filodoxos um melhor adjectivo para descrever os nobres senhores. que isto das opiniões é como as vaginas dizia o outro, cada um tem a sua e quem quiser dá-la, dá-la..

recomenda-se pois, prudência..

quinta-feira, abril 20, 2006

quando não há tempo para escrever..

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!


diz Kundera n'A Ignorância que são os países pequenos que têm mais poetas

domingo, abril 16, 2006

aproveitemos para viajar enquanto é tempo

bibliografia aconselhada: the long emergency - james howard kunstler http://jameshowardkunstler.typepad.com/

há medida que a gasolina fica mais cara os sabichos dizem que é a conjuntura.
facto: metade dos 2 triliões (à americana) de barris de petróleo estimados existirem na terra antes de 1850 já foram consumidos
facto: nos últimos anos, em cada ano menos poços de petróleo são descobertos e em locais cada vez mais complicados de explorar
facto: nos poços maiores o crude cada vez tem menor qualidade, logo mais dificil refinação e mais complicado de lhe aceder, logo mais energia gasta. hoje por cada barril gasto para extrair o retorno é de 2. em 1850 eram de 1:28
facto: todos os anos a procura cresce e a tendência é crescer cada vez mais depressa com a procura na China e na India e restantes países que passem do 3º para o 1º mundo (há algum 2º?)
facto: os estados unidos deixaram de ser autosuficientes durante os anos 90

especulação: países como a Arábia Saudita, Irão, Iraque, admitiriam que as suas reservas são na verdade inferiores?
especulação: as empresas que exploram e vendem petróleo ou derivados admitiriam que as suas reservas são na verdade inferiores?

a mim parece-me que a lei da oferta e da procura determina uma subida sem fim até ao fim

diz um senhor que a este ritmo temos 37 anos até ao fim

disse um português-tipo: eles depois inventam outra coisa

á medida que o pretóleo sobe a globalização desacelera. embora as comunicações continuem globais, o trasporte que envolva petróleo (quase todos hoje em dia) fica mais caro. até ao ponto onde deixará de ser rentável.

viver fora da cidade e usar o carro para fazer + de 100Km/dia custe 20€.. depois 30€.. ad roturum

temos a electricidade e outros meios para a produzir. afinal de contas é a forma mais fácil de transportar energia e a mais facil de transformar de novo em energia mecânica. o problema é produzi-la sem auxílio do petróleo de nenhuma maneira. nem na construção, nem nos aparelhos de converção, nem em todos os acessórios.

parece-me que temos de começar a pensar nisto para não sermos apanhados com as calças na mão. não é fácil convercer as massas deste facto: o nosso estilo de vida vai mudar. quer seja agora, quer seja no futuro. como agora não vai ser..

parece-me que tem de haver algum bode-expiatório para as massas. sera George W, a familia Saudi, Mahmoud Ahmadinejad, bin Laden..

crise de energia ---> WWIII ?

crise de energia ???

qualquer combustível fóssil, por definição não dura para sempre. até se esgotarem andaremos a saltar entre um e outro. por ordem de custo obviamente. sejam eles gas natural, carvão, urânio, hidrogenio(?)..

especulação: quem sabe se não temos uma nova idade do gelo entretanto dizem outros.

somos todos loucos?

tributo a Lisboa

Parava no café quando eu lá estava
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava
a bica, ao melhor dos seus ouvintes

As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Num gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao sorrir agradecia

São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar

Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principal

Compramos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
De ele não aparecer pela manhã

São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar

Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixamos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia

E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueam
Sentado la continua a cravar
Beijinhos as meninas que passeiam.

São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios correm para o mar

(João Monge)

sábado, abril 08, 2006

contemplações

sentei-me na margem do Tejo a pensar onde estou e perdi-lhe o rumo.
aspirei a brisa e o entardecer junto ao rio que me viu nascer.
ao ritmo das velas cortei caminho de uma vida sem sentido.
a conclusão é sempre a mesma, mas é bom vesti-la cada dia de uma forma diferente.
dou comigo a pensar a pensar na morte. que mais se pode fazer enquanto se vive?
é a morte que me faz viver. e é para ela que vivo. todos somos pequenos à luz da sombra.
a penumbra vive em mim. a frugalidade faz-me cada vez mais sentido.
oscar wilde disse: a consistência é o último refúgio das pessoas pouco imaginativas.
o tempo esqueceu-se do relógio, mas não parou por isso. nem sequer voltou para trás.
seguiu o seu caminho indiferente a tudo. tenho tanto a aprender com ele. e veio-me à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da minha vida.

quinta-feira, abril 06, 2006

a desilusão bate em vagas

reparo rádios antigos na esperança que captar as frequências de outrora.

um atentado

nós somos um povo com pena.
pela história que atesta e retém
dos que impedidos de ir mais além
lograram enganar o sistema.

honra aos vencidos, vencedores morais
penando de mãos a abanar
rogando de braços no ar
orgulhosos reconhecimentos gerais.

e vai o povo a sorrir à rua
com panos e faixas bramindo:
fogueira que a bruxa flutua.

nós, de cara esmola subsistindo
ao relento dormindo e à luz da lua
minguamos todos assim, mentindo.

o salto com vara

o tempo estava tão feio que parecia que se agarrava à pele. pulando fronteiras Rahzel foge dum passado sem presente e dum pesadelo sem despertador. o livro de carimbos bordeaux com letras douradas continua em branco.

daí a minha minha amiga não passa. deste lado não entram pobres de espírito. escusa de tirar das costas a mochila.

mas tirou. deixou-a caida aos seus pés, puxou as lágrimas e desandou os passos que conseguiu improvisar. tal era a cara de desânimo e frustração que o-das-patentes ficou sem reacção, a meio entre a satisfação de uma recusa veemente dada com o desespero de se deparar com um teatro novo, um filme para o qual não lhe deram guião. e agora tinha de improvisar. já o realizador havia dito acção e a'o-das-patentes o esturro não lhe chegara ao nariz.

uma pena pensa Rahzel. não é o autocarro, é o posto fronteiriço.

foi dada como morta. tal como o-das-patentes, mas deste ainda se encontrou a dentadura. de Rahzel sobrou o livrinho bordeaux e umas fotos com espingardas cruzadas em fundo. sinal X a marcar o local. uma quarta-feira como as outras.

passou a fronteira na confusão. anda a monte.

quarta-feira, abril 05, 2006

cai neve em nova iorque

Cai neve em Nova Iorque, faz sol no meu País, faz-me falta Lisboa para me fazer feliz

05 04 2006 está de chuva lá fora

Ontem assisti à entrevista mais inquietante dos últimos tempos. António Lobo Antunes à conversa com Ana Sousa Dias. Um escritor que foge de luzes como moscas da água. Genialidade à parte há que reconhecer a irreverência e o espírito inconformado. Alguém que busca desde algum tempo a esta parte algo intrínseco à natureza humana, a profunda liberdade individual, confinada por uma cerca de preconceito pela sociedade que nos é mais próxima e querida. Liberdade tal que nos leva por um lado a um forma de loucura, “todos nós somos muitos”, “ouvimos muitas vozes”.

Se em verdade A.L.A. pode dar ao luxo de tal comportamento que em nada belisca a sua figura de escritor, antes pelo contrário, é suficiente para criar uma aura de mistério quase sobrenatural.

Faz falta gente irreverente neste país. Parecemos um povo de carneiros. Aos pulinhos méé méé.

O que os outros vão dizer? Quem são os outros e que direito têm os outros de opinar acerca do que desconhecem? Sem separar o trigo do joio, porque não é de uma luta de classes que falo, de classes normais. Estão-se a separar novas classes. Classes de educação. E os não educados terão grandes dificuldades. Não sou eu que o digo, mas concordo plenamente.
Educação e preconceito são limites da mesma linha. A sorte é tudo o que rodeia. E nós andamos por aí. Não faz sol no meu país.