domingo, maio 08, 2005

Jimi Thing

Lately I've been feeling low
A remedy is what I'm seeking

I take a taste of what's below
Come away to something better


há dias em que o melhor é mesmo não sair de casa, aqueles em que a neura vence o sono durante a noite para estragar o dia. as vezes faço de conta que ela não está lá, digo-lhe eu quem manda sou eu, empurro-a para baixo mas é como azeite em agua, nem agitando..

What I want is what
I've not got
And what I need Is all around me
Reaching searching never stop
And I'll say...

o mundo desperta ao rodar a maçaneta. a partir desse momento perco o controlo sobre o que me rodeia e entro num reino imprevisível em que procuro a chave, senão da felicidade, pelo menos do melhor humor. procuro, procuro..

I'd like to show you what's inside
And I shouldn't care
If you don't like it
Brother chaos rule all about
Sometimes I walk there
Well yes God knows sometimes I take a bus there
Shouldn't care shouldn't care
Bereaved as I'm feeling

nem sempre encontro a razão para o mau humor. naqueles casos em que há tantas doenças e tão poucos remédios que o melhor é tomar todos, pode ser que algum faça efeito. e assim se passam as horas..

The day is gone
I'm on my back
Staring up at the ceiling
U take a drink sit back relax
Smoke my mind make me feel
Better for a small time

agarro-me às pequenas coisas. àquelas que não nos podem surpreender. que não nos custumam deixar pior do que quando nos encontraram. justamente aquelas que começam por ser a solução e acabam em problema. e o dia acaba como começa. um dia é uma linha que une 2 pontos que são um só , seja elipse ou quadrado, um dia não deixa de ser um circulo ou ciclo ou circo ou qq outras palavras formadas por esse conjunto letras. desafio alguem a escrever alegria com elas.

What I want is what I've not got
And what I need Is all around me
Reaching searching never stop
And I'll say...

assim com veio pode ir embora e todo o caminho parece logo uma idiotisse. com a pressa de chegar ao fim esqueço-me a proveitar a vista. e assim mais dia menos dia dou comigo no mesmo sitio. passando pelos mesmos sentimentos, revolvendo as mesmas memórias. para chagar ao mesmo sitio, de onde mais valia nem ter saído.

If you could keep me floating
Just for a while
Till I get to the end of this tunnel
If you could keep me floating
Just for a while
I'll get back to you

mas há outros em que a meio do caminho alguma coisa nos empurra para outros carris, pelo menos por momentos. agarro-me a eles. volto atrás se for preciso. nem sempre é possível. não deixo de tentar.

continuo a depender das pequenas coisas..

quarta-feira, maio 04, 2005

quem conta um conto

Rodrigues foi um tipo que um dia foi conhecido pelo narrador desta estória certo dia numa feira de hobbies. no canto mais abrigado do sol (pelas arvores do recinto), o narrador montou a sua banca. nada de mais, lá cabiam duas pessoas, duas almofadas e um saca-rolhas. todo o chão da tenda era confetis, um verdadeiro colchão de confetis. à frente desta um banquinho e um pau espetado na terra com um papel, qual bandeira a anunciar qualquer coisa que Rodrigues só mais tarde percebeu.

- então aqui o que é que fáz ? - qual chico-esperto este Rodrigues.
- entrai e experimentai.

e assim fez o Rodrigues, não era de modas este rapaz. sentou-se numa das almofadas, avantajadas mas não o suficiente para o real traseiro de Rodrigues. pegou no saca-rolhas, olhou à volta.. para cima.. nada! o narrador disse qualquer coisa nesta altura tipo

- fique à vontade e não faça cerimónia.

era um Rodrigues desconfiado que assistia ao seu afundar no chão de confetis. primeiro devagar, como uma brincadeira. depois mais depressa quando deixou de achar graça. até que, em pânico, completamente inundado de confetis sentiu-se nadar.

mexia os membros a custo, mais por falta de geito que por impossibilidade. os que o antecederam safaram-se bem melhor constatou o narrador. encontrou finalmente um alçapão. abriu-o com alguma dificuldade e aos poucos os confetis escorreram até ficar apenas uma pequena camada pelas canelas que decidiram ficar, assim como as almofadas.

Rodrigues viu-se preso no fundo de um poço revestido com um espelho único como no interior a toda a volta. mas não refletia a imagem como Rodrigues esperava. à frente de seus olhos não estava a imagem da sua cara. olhou para baixo. viu uma criança.

demorou aquela fracção de tempo que não se chega a perceber se foi curta ou longa até se aperceber de que a criança era ele. olhou à volta e à volta olhava ele de volta, mas miudo. olhou-se bem, viu-se como nunca se tinha visto, as cicatrizes que ainda não tinha, os sinais que ainda não cancerinavam a sua pele, viu os pelos que ainda não nasceram, mas pensou tudo o que ainda não viveu e que já pequenino queria viver.

deu-se conta que tudo o que mudara estava à vista no espelho, o espelho não lhe mostrava o que estava na mesma, que era tudo o resto. o saca-rolhas ainda la estava, assim como as almofadas. abriu de novo o alçapão e pelo meio dos restos de confetis viu uma escadinha que descia e desceu. depois subia e subiu. até chegar a um quarto onde o esperava o narrador.

-só trouxe uma ? então faz favor dê cá e sente-se no chão que isto vai começar e eu tenho calos no rabo.

(to be continued)

domingo, maio 01, 2005

deambulações de um jovem ressacado

relações pessoais, interpessoais, pessoas que se dão com pessoas, pessoas que fazem coisas com pessoas, pessoas que falam com pessoas, pessoas que são e pessoas que se deixam ser.

algo tão simples, banal e inevitável como complicável e aterrador. ser em sociedade é fazer escolhas. ter opiniões e dá-las. demarcar diferenças numa manada de clones. clones? não por sermos iguais, mas por sermos a mesma coisa.

no meio do processo de afaste acabamos por nos juntar em grupos mais pequenos, frequentemente em grupos de 2. é mais facil, ainda assim de facil tem muito pouco a ciencia das relações. das vontades e dos desejos, das conversas e dos afectos. existimos em tantas dimensões e mal temos consciencia disso. interagimos sem saber e sem saber somos classificados segundo a prestação interactiva.

uma criança fala com outra simplesmente porque têm a mesma idade e estão próximas. conheçam-se ou não. interagem. ao crescer necessitamos de nos afirmar pela diferença, e assim já não podemos falar com qualquer um sem qualquer motivo. são precisas razões. somos induzidos a apresentar um porquê sobre os actos e as escolhas. não é apenas percorrer o caminho, é explica-lo. racionais com qualquer coisa de aleatório.

e depois lembramo-nos destas coisas todas quase sempre na mesma altura. quando uma singularidade se atravessa no caminho e nos força a tomar posição. bifurcações. nada de meios. + ou -, preto ou branco, esquerda ou direita. nada meios. em alturas que apetece as duas, em que a escolha é ausênte.

a vida corre caoticamente para a morte. a ordem é uma invenção nossa para compreendermos o caminho. porque não o compreendemos. pelo menos eu não.

tantas portas.

tantas portas..

cada uma com coisas boas e más. semi-transparentes. vemos parte. comparamos o que vemos em cada uma. espreitamos um pouco mais. duvidas, receios, medos. a frustração de uma escolha é compreendermos que temos de escolher. de abdicar.

podemos abrir várias, mas quase sempre uma de cada vez. mãos e braços pequenos não deixam mais.
algumas uma vez transpostas não há regresso. essas ainda são as que assustam menos, porque uma vez feita a escolha, nada mais há a escolher. agora aquelas em que se pode voltar atrás.. é que dão cabo disto tudo.

é-nos dito que temos na mão o destino.. mentiras. seguramos a trela do destino mas ele move-se sozinho, com as suas próprias razões. chamamos-lhe Deus quando não o entendemos, quando as Suas razões ultrapassam as nossas.

e afastamo-nos Dele. porque não queremos admitir que há coisas que não comandamos. que há portas que não são abertas por nós. queremos o poder da escolha num regime absoluto. não admitimos a nossa fraqueza. conduzimos um barco de leme partido. quando não compreendemos o seu movimento arranjamos um culpado, um bode e expiamos.



deambulações de um jovem ressacado em noite pós-arraial

paz.