segunda-feira, junho 19, 2006

nostalgia da partida sem destino nenhum

"Foi sem mais nem menos
Que um dia selei a 12 5 azul
Foi sem mais nem menos
Que me deu para abalar sem destino nenhum

Foi sem graça nem pensando na desgraça
Que eu entrei pelo calor
Sem pendura que a vida já me foi dura
P'ra insistir na companhia

O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa
Não partiu para parte incerta
Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
Sem paredes, sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar

Tal vez
um
dia me en contre
As sim hmm
talvez me en contre

Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar
De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar
Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio
E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu

Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre

Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar
Será que existe em mim um passaporte para sonhar
E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar

Foi sem mais nem menos
Que um dia selou a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que partiu sem destino nenhum
Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer
Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer

Mas Deus leva os que ama
Só Deus tem os que mais ama"


o radio clube português partilhou hoje comigo este hino ao desafio. no meio do aperto de quem nos '80 da vida só cousas boas conhecia, a nostalgia bateu forte e a lágrima quase caiu. se banda sonora houvesse para os tais 15' esta seria uma grande candidata (a par da deep in it - saint germain). um tributo ao acto de partir; partir sem destino; partir por partir; partir para regressar..
e no meio das partidas a lado nenhum chegar, passando e conhecendo, pensando apenas em caminhar. talvez um dia me encontre.
mais do que chegar, mais do que o caminho, difícil, difícil é partir. renunciar ao que se deixa para trás. renunciar até ao que se disse que se fazia, e fazer.. indo. sentindo desafios que nunca ninguém sentiu. talvez.. um dia me encontre.
(e é dizer assobiando:) du-du-ru-ru-ru du-ru-ru-ru-ru du-ru-ru-ru...

quinta-feira, junho 15, 2006

o que diz o moleskine

"Fomos ensinados a ver a vida como uma busca, uma caminhada que, com sorte, terminava com significado, amor e uma conta poupança-reforma que manterá dourados os nossos anos dourados. No entanto, não há fim nem ponto de chegada, a busca nunca termina verdadeiramente. Não há nenhum cargo, camisa da Brook Brothers ou punhado de dolares que possa servir de linha de meta. É por isso que a concretização dos objectivos pode parecer tão desapontante como o fracasso"
Keith Ferrazzi

"Foi-me dado a observar, na maior parte de quantos deixaram memórias, que só nos mostráram claramente as suas más acções ou inclinações ruíns quando porventura as tomaram por proezas ou bons instintos, coisa que às vezes sucedeu."
Alexis de Tocqueville

"Existe em todos os sentimentos humanos uma flor primitiva, engendrada por um nobre entusiasmo que vai enfraquecendo sempre, até que a felicidade não seja senão uma recordação, e a glória uma mentira."
Honoré de Balzac

terça-feira, junho 13, 2006

alentejando


Deixo-vos aqui algumas fotos que relatam a evolução da obra, quais "Processos de Construção". Estamos no 16º mês de trabalho em obra, faltam aproximadamente 2 a 3 meses para o términus.







Parece que a Ministra da Cultura se encontra neste momento na Coudelaria de Alter com a nata do mundo equestre lusitano e em particular alteriense. Saúda-se, numa altura em que se equaciona o papel do Estado enquanto proprietário e (mau) gestor do seu património, a atenção dispensada a esta secular instituição.





Estamos abertos a visitas de segunda a sexta no horário laboral normal. Disponibilizamos capacete e água refrigerada







Deixo-vos com uma reflexão:

"De toda a resistência de atrito, a que mais atrasa o movimento humano é a ignorância" Nikola Tesla

quinta-feira, junho 08, 2006

ele disse e eu repito

"Existe violência porque diariamente prestamos homenagem à violência. Qualquer homem medianamente educado pode fazer fortuna preparando um espectáculo de televisão cuja brutalidade é fotografada com detalhes suficientemente monstruosos. Quem produz esses programas, quem os patrocina, quem é glorificado por actuar neles? Serão essas pessoas delinquentes psicopatas esgueirando-se em vielas sujas? Não, são os pilares da sociedade, nossos homens famosos, nossos exemplos de sucesso financeiro e social. Temos de nos começar a envergonhar e arrepender do que já fizemos, se quisermos começar a construir sensatamente uma sociedade pacífica, já para não dizer um mundo pacífico.
Um país onde as pessoas não podem andar em segurança nas próprias ruas não tem o direito de dizer a nenhum povo como se governar, quanto mais o direito de bombardear e queimar esse outro povo"

Arthur Miller «The trouble with our contry», artigo escrito para o New York Times em 1968

Não é este texto extremamente actual? Afinal de contas já la vão quase 40 anos.. Eu divido o artigo em 2 partes. Uma primeira em que sublinhando a violência lhe acrescentaria o voyuerismo para melhor adapta-lo aos anos que correm, ainda assim nem uma vírgula lhe tirava. E uma segunda parte composta pelo parágrafo que propositadamente separei do restante texto. Obviamente tratava-se de um piscar de olho ao Vietname e quem sabe à Coreia, mas mais uma vez nem uma vírgula lhe tirava. Talvez apenas o queimar visto que o napalm caiu em desuso (digo eu que por lá não ando nem nunca andei) mas facilmente se acrescentava a tortura que, por pudor ou apenas esquecimento o autor não referiu (se calhar considera a tortura um acto de guerra e se calhar tem razão).

Acrescento duas citações, ambas por Thomas Harris no I'm OK you're OK:

"A verdade é um crescente corpo de dados relativo àquilo que observamos ser verdade."

"A democracia só pode funcionar com um eleitorado inteligente."

sexta-feira, junho 02, 2006

alma mater

"Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo cualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás."


Se tem menos de 30 anos e conhece estes versos, é filho da revolução.
Um filho da revolução é alguém que não aprendeu a amar este país mas a sua história adulterada. É alguem que cresceu entre a nostalgia e a europa. Se para si os Greatest Hits of the 80's é a melhor banda sonora para viagens longas de carro você é defenitivamente um filho da revolução.


"Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né?"

"Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá!"


Eram estas as palavras aquando da fecundação, da gestação e do nascimento.. mas delas nos esquecemos todos os dias. Abril era sonho e por aí ficou. Não foi Abril quem nos fez mais felizes. Entreteve-nos uns tempos. Hoje é mais uma revista às tropas e discurso de cravo na mão que outra coisa qualquer. E assim tem de ser. Ainda hoje se evoca a Revolução Francesa e século das luzes. Abril foi a nossa década das luzes, da esperança e do pseudo-optimismo. Pronto a ser posto de lado e trocado pelo "eu não te disse? tava-se mesmo a ver".

É urgente o culto do Velho do Restelo. Só prestando vassalagem a esse senhor nos poderemos afastar do seu regaço. Reconhecei-o. Admirai-o. Fazei-lhe oferendas. Mas com ele não comungais.

Demasiado egoismo corrompe este país. Estamos, perdoem-me a redundância, iguais a nós mesmos.


Já sei que me vão falar de excepções, que ate somos os melhores do mundo nisto e naquilo, mas como uma andorinha não faz a Primavera.. por ca definhamos entre a novela das 7 e a novela das 10.

Não há altura melhor para se cortarem amarras. Farei um ultimato ao país que me tem refém. Se aí está a Europa, aqui estou eu. E são bem mais de 200km que nos separam. É todo o peso que de nós pende preso ao pequenismo. Como se o barco tivesse ganho pés e quisesse andar mas a âncora jaz no Cais das Colunas e daí não arreda pé. Antes só que mal acompanhado. Orgulhosamente só.

Pois que só fique. Este país se diz de emigrantes por alguma razão é. Cada vez mais me convenço que não foi para dar novos mundos ao mundo que nos fizemos ao caminho, mas para desta mentalidade apartar para não dizer a sete pés fugir.

"Tiveste gente de muita coragem
E acreditaste na tua mensagem
Foste ganhando terreno
E foste perdendo a memória

Já tinhas meio mundo na mão
Quiseste impor a tua religião
E acabaste por perder a liberdade
A caminho da glória

Tiveste muita carta para bater
Quem joga deve aprender a perder
Que a sorte nunca vem só
Quando bate à nossa porta

Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta

Fizeste cegos de quem olhos tinha
Quiseste pôr toda a gente na linha
Trocaste a alma e o coração
Pela ponta das tuas lanças

Difamaste quem verdades dizia
Confundiste amor com pornografia
E depois perdeste o gosto
De brincar com as tuas crianças

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar"

será que temos os dois pés no fundo do mar e não demos conta? será que a galera meteu água e afundou?

So te apetece dizer: é mesmo assim, não há nada a fazer
Mas se és filho da revolução acredita, tens de continuar a acreditar.
Não eramos na altura o país mais pobre dos 25. Alias nem sequer 25 havia. Outros vieram depois e já nos passaram. E nós cá continuamos a não querer ver.. a dizer que é possível, que já aconteceu no passado pior e ainda assim nos safamos. Então continuamos à espera que algo aconteça.. esperando..

"O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:

«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem são as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o monstrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alme teme

E
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»"


ainda há gente desta? que só no abismo se revela? que dá o peito à bala e o corpo ao manifesto?

e assim te digo:

"Addio, adieu, aufwiedersehen, Goodbye,
Amore , amour, meine liebe, love of my life."

até sempre, Portugal

cá te espero..

quinta-feira, junho 01, 2006

eles dizem salta e eu digo quão alto

portanto tive 6 anos no técnico e ganho menos que uma mulher-a-dias, que de resto trabalham bem mais que eu.

diz que a formação é o que tá a dar..

ainda não tive oportunidade de reproduzir os meus conhecimentos sobre o "ground-freezing" ou a utilidade do cilindro de pés-de-carneiro.

estou em crêr (se bem que há quem diga que este verbo não exista) que ainda estou por me cruzar com um engenheiro (licenciado) no mundo da sub-empreitada. se por um lado se perdem todas as piadas que ao longo dos anos se foram fazendo com base na análise de estruturas e mormente num seu instrutor, vão-se ganhando umas novas de vez em quando. já sem o requinte que só a teoria de kirkoff empresta ao assunto, mas envolvendo sempre o bolso de uma das partes.

o género de coisa que sempre útil para quebrar o gelo num urinol e sobretudo para distrair a vista a alguém enquanto se coçam as partes baixas. falo-vos dos acertos finais com sub-empreiteiros, no caso responsável pelos trabalhos de cofragem. de portátil para si virado ia entroduzindo os valores que se iam medindo nas plantas, nunca sem um aparte relativamente à dificuldade do trabalho em causa e ao desperdício de material daí resultante.

coisa que demorou um dia de trabalho com tanta discussão pelo meio e acabou com a reclamação de uns bons 1500m2 que supostamente não foram pagos. ora bem, que eu lhes andei a roubar 5 a 10cm em cada outra peça é sabido e reconhecido, senão que haveriam eles de reclamar? agora mil e quinhento metro é muito metro.. mas está bém pá.. já é tarde eu depois vejo isso.

lá analisei a coisa, conferi, comparei com os autos, com o projecto.. e o raio não devia fugir muito porque bate quase tudo certo.. aliás há ainda alguma coisa que foi feita mas que eles se esqueceram de reclamar logo isto não faz sentido.

para quem não está habituado a este tipo de tabela eu resumo: nas linhas os elementos executados; nas colunas o nº de elementos, o nº de faces, comp., larg.,altura, subtotal, total.

pois bem, o artista decidiu que umas certas vigas (atenção que apenas aquelas com áreas totais superiores a 200m2) tinham todas 2 faces quando a medição havia sido feita apenas como de uma face se tratasse.

eu fico sempre com algum peso na consciência quando tenho de executar estes pequenos cortes mas perante um esquema intrincado como este acho que lhe vou perder o respeito. se o senhor achava que aquilo passava.. ainda me disse ao telefone que era melhor ser ele a esclarecer isso pessoalmente porque eu poderia não entender o que estava na folha. felizmente sou amigo do excell o que me permitiu dispensar a mediação.

o futuro dirá da minha imaginação creativa aplicada à arte da subtracção. ganhasse eu à comissão e estava feito empreiteiro de furtos.

just victims of the in-house drive by..