"Existe violência porque diariamente prestamos homenagem à violência. Qualquer homem medianamente educado pode fazer fortuna preparando um espectáculo de televisão cuja brutalidade é fotografada com detalhes suficientemente monstruosos. Quem produz esses programas, quem os patrocina, quem é glorificado por actuar neles? Serão essas pessoas delinquentes psicopatas esgueirando-se em vielas sujas? Não, são os pilares da sociedade, nossos homens famosos, nossos exemplos de sucesso financeiro e social. Temos de nos começar a envergonhar e arrepender do que já fizemos, se quisermos começar a construir sensatamente uma sociedade pacífica, já para não dizer um mundo pacífico.
Um país onde as pessoas não podem andar em segurança nas próprias ruas não tem o direito de dizer a nenhum povo como se governar, quanto mais o direito de bombardear e queimar esse outro povo"
Arthur Miller «The trouble with our contry», artigo escrito para o New York Times em 1968
Não é este texto extremamente actual? Afinal de contas já la vão quase 40 anos.. Eu divido o artigo em 2 partes. Uma primeira em que sublinhando a violência lhe acrescentaria o voyuerismo para melhor adapta-lo aos anos que correm, ainda assim nem uma vírgula lhe tirava. E uma segunda parte composta pelo parágrafo que propositadamente separei do restante texto. Obviamente tratava-se de um piscar de olho ao Vietname e quem sabe à Coreia, mas mais uma vez nem uma vírgula lhe tirava. Talvez apenas o queimar visto que o napalm caiu em desuso (digo eu que por lá não ando nem nunca andei) mas facilmente se acrescentava a tortura que, por pudor ou apenas esquecimento o autor não referiu (se calhar considera a tortura um acto de guerra e se calhar tem razão).
Acrescento duas citações, ambas por Thomas Harris no I'm OK you're OK:
"A verdade é um crescente corpo de dados relativo àquilo que observamos ser verdade."
"A democracia só pode funcionar com um eleitorado inteligente."
2 comentários:
Por vezes simplificar numa frase um acto pode distorcer a realidade. Apesar de haver semelhanças há que ver as diferentes envolventes de ambas as guerras...
Numa os EUA foram chamados a ajudar e a defender pelo próprio povo, se bem que ainda foram muito devido ao facto de que lhes interessava. Essa perderam e apenas indo lá vê-se o que aconteceu devido à retirada.
Noutra foram à revelia do resto do mundo, carregados de interesse, se bem que apenas o futuro dirá se eles afinal ajudaram e defenderam ou não o próprio povo.
Em qualquer um dos casos sobre o manto de usar a guerra como defesa de um povo foram utilizados certos meios que põem em causa os próprios fins...
Sou forçado a concordar contigo. No entanto a comparação per si não era bem a questão que pretendia sublinar; era mais a beleza do dizer history repeats itself no sentido lato, em particular na profundidade que entrevejo das citações posteriores. Ainda que admitindo que a ordem delas no texto devesse ser trocada.
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