domingo, maio 01, 2005

deambulações de um jovem ressacado

relações pessoais, interpessoais, pessoas que se dão com pessoas, pessoas que fazem coisas com pessoas, pessoas que falam com pessoas, pessoas que são e pessoas que se deixam ser.

algo tão simples, banal e inevitável como complicável e aterrador. ser em sociedade é fazer escolhas. ter opiniões e dá-las. demarcar diferenças numa manada de clones. clones? não por sermos iguais, mas por sermos a mesma coisa.

no meio do processo de afaste acabamos por nos juntar em grupos mais pequenos, frequentemente em grupos de 2. é mais facil, ainda assim de facil tem muito pouco a ciencia das relações. das vontades e dos desejos, das conversas e dos afectos. existimos em tantas dimensões e mal temos consciencia disso. interagimos sem saber e sem saber somos classificados segundo a prestação interactiva.

uma criança fala com outra simplesmente porque têm a mesma idade e estão próximas. conheçam-se ou não. interagem. ao crescer necessitamos de nos afirmar pela diferença, e assim já não podemos falar com qualquer um sem qualquer motivo. são precisas razões. somos induzidos a apresentar um porquê sobre os actos e as escolhas. não é apenas percorrer o caminho, é explica-lo. racionais com qualquer coisa de aleatório.

e depois lembramo-nos destas coisas todas quase sempre na mesma altura. quando uma singularidade se atravessa no caminho e nos força a tomar posição. bifurcações. nada de meios. + ou -, preto ou branco, esquerda ou direita. nada meios. em alturas que apetece as duas, em que a escolha é ausênte.

a vida corre caoticamente para a morte. a ordem é uma invenção nossa para compreendermos o caminho. porque não o compreendemos. pelo menos eu não.

tantas portas.

tantas portas..

cada uma com coisas boas e más. semi-transparentes. vemos parte. comparamos o que vemos em cada uma. espreitamos um pouco mais. duvidas, receios, medos. a frustração de uma escolha é compreendermos que temos de escolher. de abdicar.

podemos abrir várias, mas quase sempre uma de cada vez. mãos e braços pequenos não deixam mais.
algumas uma vez transpostas não há regresso. essas ainda são as que assustam menos, porque uma vez feita a escolha, nada mais há a escolher. agora aquelas em que se pode voltar atrás.. é que dão cabo disto tudo.

é-nos dito que temos na mão o destino.. mentiras. seguramos a trela do destino mas ele move-se sozinho, com as suas próprias razões. chamamos-lhe Deus quando não o entendemos, quando as Suas razões ultrapassam as nossas.

e afastamo-nos Dele. porque não queremos admitir que há coisas que não comandamos. que há portas que não são abertas por nós. queremos o poder da escolha num regime absoluto. não admitimos a nossa fraqueza. conduzimos um barco de leme partido. quando não compreendemos o seu movimento arranjamos um culpado, um bode e expiamos.



deambulações de um jovem ressacado em noite pós-arraial

paz.

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