quarta-feira, maio 04, 2005

quem conta um conto

Rodrigues foi um tipo que um dia foi conhecido pelo narrador desta estória certo dia numa feira de hobbies. no canto mais abrigado do sol (pelas arvores do recinto), o narrador montou a sua banca. nada de mais, lá cabiam duas pessoas, duas almofadas e um saca-rolhas. todo o chão da tenda era confetis, um verdadeiro colchão de confetis. à frente desta um banquinho e um pau espetado na terra com um papel, qual bandeira a anunciar qualquer coisa que Rodrigues só mais tarde percebeu.

- então aqui o que é que fáz ? - qual chico-esperto este Rodrigues.
- entrai e experimentai.

e assim fez o Rodrigues, não era de modas este rapaz. sentou-se numa das almofadas, avantajadas mas não o suficiente para o real traseiro de Rodrigues. pegou no saca-rolhas, olhou à volta.. para cima.. nada! o narrador disse qualquer coisa nesta altura tipo

- fique à vontade e não faça cerimónia.

era um Rodrigues desconfiado que assistia ao seu afundar no chão de confetis. primeiro devagar, como uma brincadeira. depois mais depressa quando deixou de achar graça. até que, em pânico, completamente inundado de confetis sentiu-se nadar.

mexia os membros a custo, mais por falta de geito que por impossibilidade. os que o antecederam safaram-se bem melhor constatou o narrador. encontrou finalmente um alçapão. abriu-o com alguma dificuldade e aos poucos os confetis escorreram até ficar apenas uma pequena camada pelas canelas que decidiram ficar, assim como as almofadas.

Rodrigues viu-se preso no fundo de um poço revestido com um espelho único como no interior a toda a volta. mas não refletia a imagem como Rodrigues esperava. à frente de seus olhos não estava a imagem da sua cara. olhou para baixo. viu uma criança.

demorou aquela fracção de tempo que não se chega a perceber se foi curta ou longa até se aperceber de que a criança era ele. olhou à volta e à volta olhava ele de volta, mas miudo. olhou-se bem, viu-se como nunca se tinha visto, as cicatrizes que ainda não tinha, os sinais que ainda não cancerinavam a sua pele, viu os pelos que ainda não nasceram, mas pensou tudo o que ainda não viveu e que já pequenino queria viver.

deu-se conta que tudo o que mudara estava à vista no espelho, o espelho não lhe mostrava o que estava na mesma, que era tudo o resto. o saca-rolhas ainda la estava, assim como as almofadas. abriu de novo o alçapão e pelo meio dos restos de confetis viu uma escadinha que descia e desceu. depois subia e subiu. até chegar a um quarto onde o esperava o narrador.

-só trouxe uma ? então faz favor dê cá e sente-se no chão que isto vai começar e eu tenho calos no rabo.

(to be continued)

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