quinta-feira, maio 11, 2006

isolamento e desilusão são faces da mesma moeda

o sentido da vida é de tal forma pessoal e incompreensível que vai para milhares de anos se escreve sobre o assunto. ainda que alguém chegue ao seu, ou chegue a algum lado que seja com isso, provavelmente apenas funciona para o próprio.

diz quem sabe que uma boa forma de lá chegar é a chamada terapia Vipassana, que consiste em passar 10 dias sozinho sem falar com ninguém, excepto com o mentor ao fim do dia. 10 dias sozinho a meditar, que é como quem diz pensar na vida, onde se chegou e onde se quer chegar farão alguma diferença?

diz quem o fez que sim, pois quase sempre impomo-nos objectivos que apenas julgamos que nos farão felizes. o sucesso num objectivo consegue ser tão frustrante como o fracasso, quantas vezes não sabe a pouco por muito que seja?

quantos já escreveram sobre isto e outros que diariamente o fazem com resultados pouco mais que diminutos? não se procura aqui solução mas apenas falar sobre isso. coisa digna de registo é o facto de nada se conseguir sozinho, sobretudo a felicidade. por mais histórias de self-made man que me contem não me conseguem convencer, alguém e certamente não foram poucos teve de ter da ajuda em diversos pontos do percurso.

e admitamos que se lá chega, seja por que via for, que felicidade nos vem de festejarmos em frente ao espelho?

aproveito para contar uma história pessoal, que me devia ter servido de exemplo na altura. pelo menos ainda me lembro dela hoje para aqui relatar. são erros como este que não nos podemos dar ao luxo de esquecer. aliás, nunca nos devemos esquecer dos erros que cometemos.

andava eu no ciclo, 10 aninhos tinha, e um concurso foi feito na escola que frequentava, sobre o Darwin, a sua história e a sua teoria. penso que não era obrigatório, mas eu decidi participar. na verdade pensei nele, esbocei e fi-lo, mas em determinada altura tive a colaboração de uma amiga e colega de turma. como rapaz inseguro, convencido e arrogante que era (e que ainda sou), e porque verdade seja dita fiz o grosso do trabalho, queria ficar com os louros e por isso não puz o nome da minha colega no trabalho.

acabei por ganhar o concurso, escusado será dizer que se alguém me deu os parabéns para além da professora de ciências foram os meus pais, mas isso também não era problema meu era só inveja dos outros colegas pensei eu.

senti-me terrivelmente sozinho quando fui receber o prémio, a um sábado, no meio de pessoas cuja única cara conhecida era a do meu pai. e assim festejei, sozinho.. nunca mais falei nesse prémio a ninguém e tenho sinceramente vergonha de não ter partilhado esse momento com ela. nunca ela me disse nada sobre esse episódio e hoje damo-nos bem embora só nos vejamos de vez em quando, e o motivo por ela me ter ajudado na altura, julgo eu, era por ter qualquer paixoneta que propriamente partilhar a minha ambição de ganhar, ganhar, ganhar..

resultado, ganhei um livro, fiz a festa, apanhei os foguetes e se já era pessoa solitária na altura, bem, melhor não fiquei.. mas fiquei com os louros de ter ganho, pensava que era isso que eu queria! já na altura me fazia bem uma meditação profunda..

quem só me conheceu mais tarde, como os leitores deste espaço, não terá de mim a ideia que na altura os meus colegas tinham, até porque naturalmente este não foi um episódio isolado. mas como isto não é um diário de bordo, ficarei por aqui no que diz respeito a exemplos. hoje tenho apenas ligações ténues às pessoas que cresceram comigo, e foram as mesmas desde a 1ª classe até ao 12º ano. felizmente ainda vou a tempo de fazer as pazes comigo e com eles em relação a este periodo, mas por forma alguma o devo esquecer.

e o que tem isto a ver com o sentido da vida? bom, sei que nesse periodo raramente fui feliz e inclino-me a acreditar que se deve ao facto de querer ser feliz sozinho.. e por isso digo que não é possível. o espelho não é grande companhia.

por isso digo, saí e abraçai o mundo que dele são feitas pessoas e pessoas o fazem. cá está algo que parece tão inato a algumas pessoas que fui conhecendo mas que a mim me levaram muitos momento de sofrimento mais que outra coisa qualquer.

se o sentido da vida não são as pessoas, preciso de um retiro. de qualquer maneira acho que preciso. dizem que dar é melhor que receber. assino por baixo, nada melhor há que fazer alguém feliz. nada me deixa mais feliz que isso.

hoje tenho amigos, e sobretudo sei mesmo que tenho amigos que se preocupam comigo. sinal que é possível mudar e que vale a pena. vale mesmo.

um abraço a vocês que lêem isto que são o grosso deles. e um obrigado sincero. não desistam de me apontar falhas que eu não desistirei de as tentar corrigir.
lágrima

(bibliografia: nunca almoce sozinho - keith ferrazzi)

4 comentários:

Tomas disse...

Muito bom... Estamos claramente a afinar o lápis!

E compreendo-te bem. É uma lição que aprendo todos os dias.

Anónimo disse...

Gostei do que li, António. Continua, que esse é o caminho!
Abraço

Anónimo disse...

Caro Antonio Ferrão (Junior) Sou Amigo do teu Pai .... Como se pode ter tanto em comum com alguem que não se conhece (no que respeita ao relacionamento com os outros) ...a aprendizagem é contínua , vitalícia ...e para além dela ...Ter consciencia do que diz e do que se Lê , é já um grande recomeço ...Abraço / Luis Sousa

Duarte Aragão disse...

Se alguma vez achaste que estiveste em frente ao espelho só, enganaste. Neste este parque onde passas por vezes, todos nos olhamos solitários ao espelho, mas vamos sempre espreitando o que os outros fazem em frente ao espelho deles.

Agarraste-me com este texto.