quinta-feira, outubro 19, 2006

Relatos do Interrail - Passagens de fronteira

Começo os Relatos do Interrail por um dos mais inebriantes acontecimentos deste tipo de viagem: as passagens de fronteira. Acontecimento físico mas sobretudo psicológico de atravessamento de imaginárias linhas divisoras, sobre as quais rios de sangue correram e inda correm.

Este não é um tema sobre o qual se possa, a meu ver, generalizar mais do que o feito no parágrafo anterior, pois a história de cada curva dessas linhas diz em si mesma muito sobre o que nela está contido. E não havendo territórios iguais, não haverá fronteiras iguais.

Algumas nem se nota a passagem, noutras a passagem é de tal forma notória que se apanha uma constipação no processo.

Entrar na Turquia custa 10€ para europeus ou 15$ para americanos para um visto de entrada, é bom ser europeu e ter descontos como este. Note-se que o visto diz explicitamente EMPLOYMENT PROHIBITED, o que gera sempre a mesma piada entre os mais atentos a este pormenor.

A frontreira entre Sérvia e Croácia também é digna de registo. Cemitérios humildes com centenas de cruzes delimitam-na. Como estrangeiro a esta realidade os agentes de custumes trataram-me com bastante mais simpatia que aos que dali queriam passar para o outro lado. Nesse aspecto ainda se sente algum recentimento e qualquer coisa entre a vingança e "esta-não-é-a-tua-terra".

Por falar em custumes, só não vê o contrabando quem estiver a dormir. Tabaco e qualquer coisa embrulhada que supuz ser droga vi eu a passar. Aliás, o revisor dum comboio (enquanto os passageiros tratavam dos vistos de saída) comprou dezenas de volumes de LM na fronteira entre a Turquia e a Bulgária. Distribuiu-os em sacos arbitrariamente pelas carruagens e calmamente pediu-nos que dissesse-mos que era nosso caso nos fosse perguntado. Quando lhe perguntei o que ganhava eu com isso fez-se que não percebia inglês. Os custumes búlgaros ficaram com um dos sacos e 2 pancadinhas nas costas e o comboio seguiu viagem.

Chegados a Istambul o comboio entra numa linha suburbana, passando por diversas estações mas não parando em nenhuma. Um outro revisor aproveita para atirar um saco fechado (claramente tabaco não era) numa dessas estações onde um grupo de 2/3 pessoas o esperava (ao saco) de braços abertos e aos pulos depois da bela recepção de um deles.

Ainda assim nada me marcou mais que a passagem da Hungria para a Roménia. Finalmente encontrei o 2º mundo. Um mundo onde não se fala inglês e quem fala aproveita-se disso, e bem. "This is Romania, reservation very very necessary. Oficial price X, non-oficial price.."

Sem comentários: