sábado, setembro 16, 2006

Recuperando o folego

Vou andando por ai
Sobrevivendo à bebedeira e ao comprimido
Vou dizendo sim á engrenagem
E ando muito deprimido

É dificil encontrar quem o não esteja
Quando o sistema nos consome e aleija
Trincamos sempre o caroço
Mas já não saboreamos a cereja

Já houve tempos em que eu
Tinha tudo não tendo quase nada
Quando dormia ao relento
Ouvindo o vento beijar a geada

Fazia o meu manjar com pão e uva
Fazia o meu caminho ao sol ou à chuva
Ao encontro da mão miúda
Que me assentava como uma luva

Se ainda me queres vender
Se ainda me queres negociar
Isso já pouco me interessa

Perdemos o gosto de viver
Eu a obedecer e tu a mandar
Os dois na mesma triste peça
Os dois á espera do fim

Tu tens furtuna e eu não
Podes comer salmão e eu só peixe miúdo
Mas temos em comum o facto de ambos vermos
A vida por um canudo

Invertemos a ordem dos factores
Pusemos números à frente de amores
E vemos sempre a preto e branco o programa
Que afinal é a cores
Jorge Palma - À Espera do Fim

1 comentário:

Duarte Aragão disse...

Cheira-me a mofo... e não é só meu!