tudo começou com uma simples pergunta, 'sabes onde fica camarate?', tivesse eu respondido de outra forma..
- mais ou menos, sei ir para lá perto pelas traseiras do aeroporto..
- ah.. é que o carro precisa de ir à inspecção e se pudesses deixa-lo numa garagem lá para aqueles lados eles fazem-lhe uma revisão e levam-no lá. a senhora deu-me mais ou menos as indicações para chegar lá.
nesta altura Z. estende-me um papel com as seguintes anotações:
Lumiar
Calçada de Carriche
Placa Fetais
Cruzamento - Frente
Galinheiras
Bairro Novo
Eucalipto - Farmácia
foi pouco depois que a urgência em despachar Z. de meus aposentos me levou a atirar sem confiança um ya-tasse-bem-não-me-chateies-mais-que-eu-tenho-mais-que-fazer que foi naturalmente entendido como sim afirmativo. e por aqui se ficou a conversa.
lá ia eu, CRIL-2ªCirc.-EixoN/S-Calçada.de.Carriche... A8..
e bem que podia ir até Leiria, porque placas a dizer Fetais não abundam naquela estrada. rewind, que é como quem diz, troca o paço e volta ao mesmo, A8-Calçada.de.Carriche... bem o resto é história, caguei no papel e fui pelo caminho que conheço pela Alameda das Linhas de Torres (ou coisa que o valha) e lá encontrei cheguei a um largo com um coreto que tinha aspecto de ser o sitio mais importante ali da zona. e la saio eu descontraido do carro ainda ligado , oculos na cabeça, telemóvel na mão quando me dou conta de onde estou, bem.. onde exactamente não sabia mas rapidamente concluí que sitio bom não era.
'a ultima vex que senti este cheiro foi no Casal Ventoso'
pois é, cheiro a agarrado e aos molhes, tava na Meia Laranja ali do sitio e o pior é que nada havia a fazer porque ainda por cima tava perdido. lá fui ter com um grupinho de agarrados, estacionados a 2 metros do carro
- man, como é que se chama esta cena?
-como assim?
-isto é o Largo das Galinheiras?
-andas à procura do quê?
-epá.. se isto for as Galinheiras ando à procura do Bairro Novo
-do Bairro Novo do quê? mostra lá esse papel..
importa fazer aqui uma pausa e recapitular a situação, ora bem o carro estava ligado, o radio a tocar, a porta aberta, eu já a uns bons 5 metros do carro..
-ah isso é ali em baixo, viras ali, fazes assim e tal
-tasse bem, obrigadão
chegado ao Eucalipto - existe literalmente um eucalipto quase no meio da estrada liguei para a garagem e esperei por indicações mais precisas.
-boa tarde, eu tenho de ir aí entregar um carro, estou aqui ao pé da farmácia e do eucalipto
-segue em direcção a camarate, sempre pela direita, não vira pa lado nenhum, vai passar por umas barracas, quando tiver à sua esquerda um muro branco, vira à direita. se tá ao pé da farmácia são 2/3 minutos até chegar aqui.
-uhhmmm.. ok.
-ahh, quando virar à direita vai entrar numa estrada calcetada.
-ok, ok. (roger that)
-ahh isto fica mesmo em frente das barracas.
-ok até já.
e la fui eu serpenteando as colinas até que dei com o muro branco, as barracas e a estrada calcetada que mais não é do que uma rua no "bairro das barracas". e ali estava eu ao duma garagem (nem 5 metros tinha ainda avançado com o carro) cheia de autocolantes "tunning" e ter à porta os já tradicionais Fiat Uno Turbo ie, Punto GT, Saxo Cup e afins. deduzi não fosse aquela pela descrição que apresento mas visto ter uns "manos" de tez escura a olhar pa mim com cara de quem não sabe se há-de me vender xamon ou pedir pa fazer uma chamada decidi tomar a iniciativa e fazer eu uma chamada de novo para a senhora.
-olhe acho que já aqui estou mas não sei qual é a garagem..
-é a 3ª da rua, a primeira tem um portão azul, depois um amarelo e é uma com portão amarelado
concluí estar na rua das garagens.
depois de fazer as queixas sobre o funcionamento do carro como quem percebe do assunto
-tem os injectores entupidos, o ralenti muito em cima e a suspensão direita tá a fazer um barulho estranho mas não sei se é a mola, o amortecedor ou outra peça qualquer..
-ahh.. isso agente leva à inspecção e se chumbar logo se muda. sabe, é que agente não tem máquinas para ver essas coisas e eles lá fazem o teste com precisão.
devo ter feito uma cara denunciadora do que me ia na cabeça porque ela se apressou a dizer:
-mas olhe que fazemos já a revisão, mudamos os filtros, alinhamos a direcção.. essas coisas. e se por acaso chumbar, bem, também são só 6€.
como quem paga não sou eu.. é-me indiferente, assim tratei de colocar as minhas questões:
-olhe.. uhmm então e como é que se sai daqui?
-como é que está a pensar em ir embora?
-(de cuecas não é de de certeza, mas guardei o comentário para mim) de transportes, há por aqui autocarros?
-parece que há ali um. oh 'zé' (não me recorda o nome) que autocarros é que há aqui? sabe é que eu não ando de autocarro
-(gente fina é outra coisa)pois..
-para onde é que quer ir?
-(para qq sitio longe daqui) campo grande por exemplo..
-há o 17 para Fetais
-(isso é que dava mesmo geito agora, perdido já eu tou)uhmm
-po outro lado vai pa avenida do brasil. po campo grande tem de apanhar outro depois
-(nessa altura, foi como se morasse no Julio de Matos) ahh excelente!
e lá fui eu no 17.. regressando às Galinheiras lá entraram uns carochos e o pessoal das meias branca por fora das calças, boné levantado (digo eu que é a imitar look do capacete das obras - por confirmar) e óculos Arnette (naturalmente roubados) "casualmente" descaidos. mas nessa altura já todos os meus bens estavam bem refundidos na mochila e limitei-me a apreciar a vista.
diga-se em verdade, a Alta de Lisboa tem uma vista bem bonita mas cheira a pobre e o barulho dos aviões deve ser bem insuportável..
desde que daqui tiraram o Bairro dos Húngaros e os outros que por aqui proliferavam não troco Miraflores por vista nenhuma, não vejo o rio mas consigo cheirar Monsanto e ouvir os pássaros (as 6h da manhã claro está)
Sem comentários:
Enviar um comentário